Governo espanhol perde votação-chave no Parlamento e fica por um fio
A Câmara de Deputados da Espanha rejeitou nessa quarta-feira (13) a proposta de orçamento do governo de Pedro Sánchez para 2019, o que deve forçar o líder socialista a convocar eleições antecipadas, talvez já em abril.
O primeiro-ministro dependia dos votos da Esquerda Republicana da Catalunha (ERC) e do Partido Democrata Europeu Catalão (PDeCAT), que advogam pela independência da comunidade autônoma.
Mas as legendas se alinharam ao Partido Popular (direita) e ao Cidadãos (centro-direita) no apoio às emendas ao plano de despesas de Sánchez, enterrando as chances de que esse avançasse no Legislativo. O orçamento foi, assim, derrotado por 191 votos a 158.
A expectativa agora é que o governo adiante as eleições programadas para 2020 a fim de medir seu respaldo popular —os socialistas foram alçados ao poder em junho de 2018, após a gestão Mariano Rajoy (PP) ser derrotada na votação de uma moção de desconfiança no Parlamento.
O pleito extemporâneo poderia ser realizado no fim de abril.
Nos últimos meses, Sánchez vinha sendo criticado pela oposição conservadora por tentar retomar o diálogo com o movimento independentista da Catalunha. No orçamento recusado pelos deputados, consta um aumento das verbas destinadas à região.
Seu governo também concordou com a indicação de um relator externo para as negociações entre partidos catalães com vistas a definir uma saída para o impasse sobre o status do território —há grupos políticos ali que se opõem à separação da Espanha, assim como boa parte da opinião pública local.
A concessão foi vista pela direita nacional como uma capitulação de Madri diante de líderes que veem a Catalunha como um Estado já independente, com a mesma estatura que a Espanha.
Mas as conversas azedaram dias antes da votação do orçamento, diante da insistência das siglas independentistas para que Sánchez reconhecesse o direito catalão à autodeterminação, o que nenhum governo central jamais cogitou.
Sondagens divulgadas nos últimos dias mostram que os socialistas lideram as intenções de votos dos espanhóis, mas não teriam maioria para formar um governo, caso de fato haja eleições em breve.
Já o bloco de direita, se se unir, pode conseguir interromper a breve volta da esquerda ao Palácio da Moncloa. Mas isso pressupõe uma adesão do Vox, de direita radical, à eventual coalizão entre PP e Cidadãos.
O pacto enfrentaria resistências dos dois lados –apesar de já ter se concretizado, na prática, no governo regional da Andaluzia, onde, talvez em um prenúncio das agruras de Sánchez, os socialistas foram apeados do poder pela tríade em dezembro, após uma hegemonia de quase 40 anos.