Guaidó não descarta apoiar ação estrangeira na Venezuela
O opositor Juan Guaidó não descartou autorizar a intervenção de uma força estrangeira para que o ditador venezuelano, Nicolás Maduro, pare de “usurpar o poder” e para “salvar vidas” ante uma “emergência humanitária”.
No entanto, o líder do Legislativo, que se declarou presidente encarregado do país em 23 de janeiro, enfatiza que fará tudo que gerar o “menor custo social” para conseguir eleições livres que tirem a Venezuela da pior crise de sua história contemporânea.
“Faremos tudo o que for necessário”, afirmou Guaidó à agência de notícias AFP na sexta-feira (8) ao ser questionado sobre a eventual autorização para uma intervenção militar dos EUA.
“Tudo o que tivermos que fazer para salvar vidas humanas, para que não continuem morrendo crianças ou pacientes renais. Vamos fazer o que for que tenha menor custo social, que gere governabilidade e estabilidade para poder atender a emergência.”
Para o deputado da Assembleia Nacional, “o que Maduro faz é tentar ter um inimigo exterior, tentar criar alguma causa comum com parte da esquerda mundial, mas isso não é uma questão de esquerdas ou direitas, é uma questão de humanidade, e nós faremos tudo que tenhamos que fazer de forma soberana, autônoma, para conseguir o fim da usurpação, o governo de transição e eleições livres”.
Em uma carta aberta divulgada na sexta-feira, Maduro comparou a Venezuela ao Vietnã e ao Iraque antes da ação militar americana nesses países. “Correm os dias que definirão o futuro de nossos países entre a guerra e a paz. Os seus representantes nacionais em Washington querem levar às suas fronteiras o mesmo ódio que semearam no Vietnã”, escreveu o ditador.
Logo após se declarar presidente interino, Guaidó colheu o apoio de países como Estados Unidos, Brasil, Colômbia, Chile, Argentina e Peru. México e Uruguai, a princípio, defendiam uma terceira via, com o estabelecimento de um canal de diálogo com Maduro.
O Uruguai, porém, passou a defender a realização de novas eleições. A inflexão em sua posição foi anunciada após reunião em Montevidéu com o grupo de contato criado pela União Europeia para discutir a crise venezuelana.
No início da semana passada, 13 países da UE reconheceram Guaidó como presidente interino da Venezuela, entre eles França, Alemanha, Reino Unido e Espanha.
Rússia e China ainda apoiam Maduro e vêm se posicionando contra qualquer tipo de intervenção por Washington ou outros países.
Uma ação de força estrangeira “é uma questão obviamente muito polêmica”, admitiu Guaidó na entrevista à AFP, “mas fazendo o uso de nossa soberania, o exercício de nossas competências, faremos o necessário”.
Na sexta-feira, os primeiros pacotes de ajuda humanitária enviados pelos EUA começaram a chegar à cidade colombiana de Cúcuta, na fronteira.
A logística para a entrada, e principalmente, a distribuição dessa ajuda, ainda é uma incógnita para Guaidó e a oposição venezuelana. Os militares, parte-chave nesse processo, ainda se mostram leais a Maduro, mesmo com fissuras pontuais em um apoio que já foi mais sólido.
“Quando tivermos os insumos suficientes vamos fazer uma primeira tentativa de entrada. Sabemos que há um bloqueio em Tienditas [fronteira com a Colômbia], que as Forças Armadas têm um dilema importante de se aceitam essa ajuda ou não. Seria quase miserável não aceitá-la”, declarou Guaidó.
O líder opositor disse que nesta semana, após a formação de grupos de voluntários em toda a Venezuela, deve ser realizada a primeira tentativa de buscar os pacotes.
Maduro classificou o envio de ajuda como “um show” e afirmou que os pacotes deveriam ser entregues a colombianos pobres “porque não mendigamos para ninguém”.
Apesar de Maduro seguir no comando, Guaidó aparenta otimismo. “Cada dia que estou livre, exercendo minhas funções, é um dia de vitória da democracia, um dia que Maduro continua se isolando. Acredito que ele está perdendo todos os dias.”