Guaidó recupera pontos perdidos
A notícia não é que Juan Guaidó retornou à Venezuela. A notícia é que Juan Guaidó não foi nem impedido de regressar nem preso ao desembarcar, ao contrário do que se especulava.
Ressalva: não havia sido preso até o meio da tarde desta segunda-feira (4). Com isso e com a (de novo) impressionante maré humana que se mobilizou para recebê-lo, o presidente interino, reconhecido por mais de 50 países, recupera os pontos que parecia ter perdido ao fracassar, no dia 23 de fevereiro, a tentativa de forçar a entrada de ajuda humanitária na Venezuela.
Fracassado o intento, a sensação mais ou menos consensual na mídia internacional —e recolhida também nesta Folha— era a de que Guaidó perderia o ímpeto para continuar na escalada para forçar uma transição para a democracia.
Não perdeu, mas nada garante que continue com a capacidade de mobilizar seus apoiadores. O sociólogo Luis Salamanca chegou a dizer a um “site” oposicionista que Guaidó deveria ajustar a sua estratégia e passar a ensinar a seus apoiadores a “ter a esperança centrada no processo e não em um evento".
É uma alusão ao fracasso de 23 do mês passado: Guaidó, com o apoio principalmente dos Estados Unidos, mas também do Brasil, jogara tudo naquele evento, supondo que os militares permitiriam a entrada de ajuda humanitária, rompendo a fidelidade ao regime. Seria o “game over” para Maduro.
Não foi assim, e Salamanca acredita que tampouco será assim no futuro imediato. Mas Guaidó, ao contrário, dobrou a aposta ao convocar o funcionalismo público a deixar de apoiar o regime de forma a que o governo pare de funcionar.
Anúncio a respeito será feito nesta terça-feira (5), no que será o novo desafio a Maduro. Os eventos desta segunda, sempre até o meio da tarde, hora em que escrevo, deixam claro que Guaidó mantém a capacidade de mobilização, o que já é um passo importante.
Mantém igualmente apoio internacional relevante, a ponto de meia dúzia de embaixadores europeus terem se deslocado ao aeroporto Simón Bolívar para ser parte do cordão de segurança em torno daquele a quem reconhecem como presidente interino.
O que está longe de ficar claro é o que deduzir de seu retorno pacífico: foi “um desafio a Maduro”, como proclamou em manchete o “site” La Patilla, ou recebeu sinal verde de Maduro, como preferiu Javier Lafuente, de El País da Espanha?
Parece evidente, de todo modo, que “agora o jogo é outro", como Guaidó declarou ao desembarcar. Seu resultado, no entanto, ainda é indecifrável.