Heloisa Morel: Brasil, o país do futebol, também precisa de outros esportes
Com a Copa do Mundo acontecendo, todos os olhares estão voltados para o futebol, estimulando o interesse e a prática da modalidade entre jovens e crianças. Um levantamento realizado pelo Instituto Península e pelo Plano CDE, para retratar a prática de educação esportiva nas escolas públicas do Brasil, mostra que o futebol e vôlei são as modalidades mais praticadas nas escolas em mais de 80% e 70% dos casos, respectivamente. Mas e aqueles que não se interessam ou não têm habilidade para praticar esses esportes?
Pecamos em achar que o Brasil seja só o país do futebol e não estimulamos outras modalidades. Além do benefício no aprendizado, novas habilidades físicas surgiriam se houvesse o aumento do repertório esportivo. O esporte desenvolve coordenação motora, desenvoltura corporal e melhora a cognição. Além disso, quanto mais os jovens conhecerem novas modalidades, maiores as chances de descobrirem uma prática que possa se tornar um hábito para uma vida saudável.
Mas o que falta para conseguirmos esse estímulo? O mapeamento mostra que os profissionais de educação física são experientes e altamente qualificados: 66% fizeram uma pós-graduação, e 82% têm mais de 40 anos. Temos professores que estão dispostos a ensinar e desenvolver o amor pelo esporte mesmo com as dificuldades, já que a infraestrutura é apontada como o maior problema. O Censo Escolar 2017 diz que apenas 41,2% das escolas de ensino fundamental contam com quadras poliesportivas.
Para estimular, ampliar e disseminar os valores do esporte dentro das escolas, o Instituto Península, por meio do programa Impulsiona, oferece formação de professores para que eles fortaleçam a cultura esportiva. Além disso, são criadas oportunidades para os educadores trabalharem as competências socioemocionais. Quando o esporte é bem trabalhado, o aprendizado dentro e fora de aula também é favorecido.
De acordo com dados do Congresso Internacional de Neuroeducação da Espanha, escrito pela neurocientista Marta Portero, a atividade física tem um impacto positivo no funcionamento do hipocampo (essencial na consolidação da memória), na liberação de importantes neurotransmissores e no desenvolvimento de funções executivas. Os sistemas sensoriais e motores que governam o corpo estão enraizados nos processos cognitivos que permitem aprender melhor.
Estamos falando em usar o esporte como aliado para fortalecer as competências gerais listadas na Base Nacional Comum Curricular, como autoconhecimento e autocuidado, empatia e cooperação. Se desenvolvidas de forma integrada aos componentes curriculares, essas competências agregarão aos alunos conhecimentos, habilidades, atitudes e valores essenciais. Por isso, é muito importante desenvolver um contato de qualidade não apenas com o futebol, mas com outras modalidades esportivas.
Somos o país do futebol, mas será que esse é o único caminho? Com o futebol e outras modalidades, poderemos ser campeões em formar indivíduos mais saudáveis e que têm chances de aprender os conteúdos escolares com mais qualidade. É preciso ampliar e fortalecer a educação esportiva, entendendo o esporte, acima de tudo, como um instrumento pedagógico capaz de agregar valor à educação, ao desenvolvimento das competências socioemocionais e à formação integral do indivíduo.