Hit parade secreto
A revista Rolling Stone acaba de eleger as “50 canções latinas” que, em sua opinião, mais sucesso fizeram nos EUA na segunda metade do século passado. Por latinas, ela quer dizer as cantadas em espanhol —a única exceção é “Mas Que Nada”, com Sergio Mendes & Brasil 66. A lista, em ordem cronológica, começa com “Bonito y Sabroso”, com Benny Moré, de 1951, e segue com “La Bamba”, com Ritchie Valens, de 1958. E a terceira já é “Mas Que Nada”, de 1966. Ou seja, para a revista, só houve três gravações dignas de registro entre 1951 e 1966.
O que dizer de “Delicado”, o choro de Waldir Azevedo que escalou as paradas americanas em 1952 com Percy Faith, Dinah Shore e Stan Kenton? E os sucessos em série de Perez Prado, como “Mambo nº 5”, “Mambo nº 8”, “Mambo Jambo” e o insuperável “Patrícia”, que foi parar até em “A Doce Vida”? E “Babalu”, que incendiou a América com Desi Arnaz, Billy Eckstine e Yma Sumac? Aliás, o mesmo Desi que imortalizou “El Cumbanchero”.
E as velhas canções que nunca saíram de moda, como “Tabu”, “Siboney”, “Say ‘Si Si’”, “Malagueña” e “Always in my Heart”, todas de Ernesto Lecuona, com vários letristas em inglês? E o sucesso de Dinah Washington em 1959 com “What a Difference A Day Makes”, que não era outra senão a antiga “Cuando Vuelva a tu Lado”, de Maria Grever?
Harold Nicholas, um dos Nicholas Brothers, ficou rico com o chá-chá-chá “Las Secretarias”. Harry Belafonte explodiu com os calipsos “Banana Boat Song” e “Matilda”. E vários compositores americanos aplicaram glostora ao cabelo para fazer os latiníssimos “Hernando’s Hideaway”, que Johnny Ray lançou em 1954, e “Fever”, propriedade de Peggy Lee a partir de 1956.
Para desgosto da Rolling Stone, tudo isso aconteceu nos EUA entre 1951 e 1966. Mas, para esta revista, o mundo só começou quando ela foi para as bancas —não por acaso, em 1967. P.S.: “Despacito” também é bom.