Humanidades para quê?
No que depende do presidente Jair Bolsonaro e do ministro da Educação, Abraham Weintraub, programas universitários em filosofia e sociologia passariam a pão e água. Eles têm razão quando dizem que as verbas públicas deveriam ir para áreas mais produtivas, o que quer que isso signifique?
Eu acredito que não. Acho fundamental que a academia mantenha cursos de humanidades e faça pesquisas nesse campo. Receio, porém, que, no justo afã de defender as antigamente chamadas ciências do espírito, bons espíritos estejam fazendo afirmações que não se sustentam.
Não dá, por exemplo, para atribuir à filosofia o superpoder de melhorar o comportamento das pessoas ou de impedir que elas sejam presa de armadilhas ideológicas. Ninguém se torna ético por assistir a aulas de ética. Um estudo de 2017 mediu isso e concluiu que nem mesmo professores de ética se comportam melhor do que docentes de outras áreas.
Exercitar-se nas bases do chamado pensamento crítico tampouco confere proteção contra erros mais graves. Martin Heidegger, um dos principais filósofos do século 20, foi um dedicado nazista. Outros grandes nomes flertaram com o stalinismo e todo tipo de movimento totalitário.
Vale a pena investir em humanidades não porque elas aprimorem as pessoas, mas porque são um ramo importante do saber cujo estudo tem valor intrínseco.
Seja como for, não precisamos nos preocupar em demasia. Estou convicto de que Bolsonaro e Weintraub fracassarão na missão anti-humanidades que se atribuíram. Eles até conseguem prejudicar as universidades como um todo, mas não de forma direcionada. Para o bem e para o mal, transformar uma diretriz governamental numa realidade é mais difícil do que se imagina. A maior parte das intenções de dirigentes fica mesmo no terreno das intenções, especialmente quando elas carecem de lógica interna e tentam opor-se a um “statu quo” bem estabelecido como é o da política universitária.