Idolatrados, Gallardo e Renato Gaúcho buscam vaga na final da Libertadores
O sistema de som do Monumental de Nuñez anuncia os jogadores, um a um. O aplauso maior fica guardado para depois. Quando o locutor diz o nome de Marcelo Gallardo, o estádio explode.
“Muñeco! Muñeco!”, gritam milhares de pessoas.
Gallardo é “muñeco” (boneco, em espanhol) desde que apareceu na equipe profissional do River Plate. Foi apelidado assim pelos outros jogadores por ser baixinho e ter cara de criança.
Com as vitórias e os títulos, passou a ser chamado também pelo nome de outra figura histórica de baixa estatura: Napoleão.
A reação de devoção que causa na torcida é igual a que Renato Gaúcho provoca na Arena do Grêmio a cada partida importante. Como será nesta terça (30), quando gaúchos e argentinos se enfrentam na partida de volta das semifinais da Libertadores.
“Meu coração não para de cantar com dois golaços de Portaluppi. Grêmio para sempre campeão mundial”, canta o público da geral, chamando o hoje técnico pelo sobrenome e lembrando os gols dele que fizeram o time ganhar do Hamburgo (ALE) em 1983.
Renato Gaúcho é para a torcida do Grêmio o mesmo que Marcelo Gallardo para a do River Plate. Mas apenas um dos dois estará na final da Libertadores de 2018, contra Palmeiras ou Boca Juniors (ARG).
Os gremistas se tornaram favoritos para a vaga depois de vencerem em Buenos Aires por 1 a 0. Partida da semana passada em que o esquema tático de Renato funcionou à perfeição.
“O Grêmio tem um jeito de jogar e onde quer que vá, é para ganhar. A torcida reconhece isso”, afirma o treinador gremista.
No Monumental, ele conseguiu bloquear todas as jogadas de ataque montadas por Marcelo Gallardo e sua equipe fez um gol em cobrança de escanteio desviada por Michel.
“Você tem de jogar com inteligência. É fácil falar [que o Grêmio não atacou muito]. Estávamos sem duas referências no ataque”, completa, citando as ausências de Luan e Everton, lesionados.
Gallardo e Renato estão entre os maiores jogadores da história dos seus clubes. O brasileiro ganhou os estaduais de 1985 e 1986 e foi o craque do elenco nas conquistadas da Copa Libertadores e Mundial de 1983.
O ex-meia argentino venceu o Apertura de 1993, 1994, 1996 e 1997, o Clausura de 97 e 2004, a Libertadores de 1996 e a Supercopa Sul-Americana de 1997.
Os dois foram formados pelos times que hoje dirigem.
Gallardo está há quatro anos como técnico do River e conquistou oito títulos. Entre eles, a Libertadores de 2015, título que Renato levantou no ano passado.
A primeira coisa que o presidente Rodolfo D’Onofrio fez ao ser reeleito em 2017 foi renovar o contrato do treinador porque sabe que ele é um fiador da administração.
“Nós temos a mesma química e as mesmas ideias”, afirmou o cartola.
“Estou feliz da vida aqui, vivo o dia a dia com muita intensidade, o que gera certo desgaste. Mas estou feliz”, concorda Gallardo, que não ficará no banco de reservas nesta terça-feira. O treinador foi punido pela Conmebol por um jogo porque foi considerado reincidente em fazer o River voltar atrasado do vestiário para o segundo tempo do jogo de ida.
Desde que assumiu o comando do River, ele incorporou neurociência e novas ferramentas tecnológicas no departamento profissional. Faz reuniões de metodologia do trabalho que envolvem todas as pessoas da comissão técnica e até funcionários que cuidam do gramado do Monumental de Nuñez.
É a mesma autonomia que Renato Gaúcho tenta aproveitar para planejar o futuro do Grêmio. Como gosta de dizer, pensa sempre na frente. Resta apenas renovar o contrato, que termina no final deste ano. Ele mesmo já disse crer que vai ficar.
Uma das diferenças entre os dois é a estátua. Renato terá a sua no final do ano, a ser colocada na esplanada na Arena do Grêmio, os braços erguidos comemorando um dos gols contra o Hamburgo.
Gallardo não tem. Ainda.
“Ele merece. Marcelo e meu pai são os dois maiores ídolos da história do River”, defende Omar Labruna, filho de Ángel Labruna, o único ex-jogador a ter uma estátua fora do Monumental, ao lado do museu.