Igualdade de gênero é espaço para boxe melhorar imagem junto ao COI
Depois do sucesso da introdução das disputas femininas de boxe na Olimpíada de Londres-2012 e da manutenção da disciplina nos Jogos do Rio-2016, as mulheres ampliam a vigilância pelo respeito à igualdade de gênero na modalidade.
A Aiba (Associação Internacional de Boxe), entidade responsável pelo esporte na Olimpíada, realizou pela primeira vez na história seu próprio Fórum de Igualdade de Gênero, que contou com mais de 50 participantes de todo o mundo, na semana passada.
Na verdade, o evento foi uma manifestação da Aiba em resposta às pressões que a entidade vem sofrendo do COI (Comitê Olímpico Internacional), inclusive com insinuações da possibilidade de banimento do esporte da grade olímpica caso algumas exigências não sejam atendidas.
O COI quer modernização de gestão, maior transparência nas competições, em especial nas decisões de lutas e arbitragens, além de segurança financeira. Não se admite mais dúvida ou suspeita de fraude nos resultados dos combates. Após a Olimpíada do Rio, a Aiba afastou temporariamente os integrantes do seu quadro de árbitros para reavaliação dos desempenhos nos Jogos. Foi um momento delicado.
A igualdade de gênero, por sua vez, tanto nas competições como nas organizações esportivas, é outra das bandeiras encampadas com entusiasmo pelo COI. Por isso, certamente, a iniciativa da Aiba representou um forte agrado ao comitê.
É interessante recordar que Londres-2012 se tornou a primeira Olimpíada a contar com participação feminina em todas as modalidades. E, coincidentemente, o boxe foi o último dos esportes a admitir moças no evento. Lá, teve ainda outro fato inédito: a Arábia Saudita enviou mulheres para competir.
A estreia feminina no boxe na reunião esportiva mais importante do mundo registrou vitória da russa Elena Savelyeva sobre a coreana Hye Song Kim diante de 10 mil torcedores, que incentivaram a dupla de pugilistas.
Adriana Araújo, da equipe nacional, ganhou em Londres a primeira medalha para o Brasil, de bronze, a única até agora. No masculino, o país soma uma de ouro, uma de prata e duas de bronze.
A pesquisadora Gabriela Mueller, especializada em questões da diversidade de gênero, destacou durante o fórum que o pugilismo é pensado como um esporte dominado pelos homens. Dessa forma, segundo ela, alcançar a igualdade de gênero é essencial para que o boxe cresça como esporte e como disciplina olímpica.
Recentemente, o COI chegou a manifestar intenção de incluir mais duas categorias femininas já na Olimpíada de Tóquio-2020, com previsão da retirada de duas do masculino. A Aiba não concordou. Aguarda-se novidades sobre a questão.
A situação real das mulheres nos esportes, apesar dos avanços, continua controversa. Não há dúvida que elas conquistaram espaços. Do pouco mais de 11 mil inscritos nos Jogos do Rio, cerca de 45% eram mulheres. Lembrar que em Paris-1900, a primeira Olimpíada com elas, eram apenas 22 inscritas, fica clara a evolução.
O suficiente? Certamente, não. Bastam comparações salariais ou de premiações, fortemente mais vantajosas na área masculina em qualquer competição. Nas organizações esportivas, as mulheres também continuam sendo minoria. Talvez seja uma questão de tempo, pois a escalada parece ganhar velocidade a cada temporada.
O universo feminino derruba conceitos e preconceitos no mundo dos esportes. Veja o caso do Brasil, rotineiramente chamado de país do futebol, lógico que pela fama no setor masculino.
Entretanto, neste 2018 de Copa, brasileiros desapareceram da lista top do ano. Em contrapartida, Marta acaba de ser eleita pela Fifa como a melhor do mundo pela sexta vez, um recorde. Fica a sensação de que alguma coisa está mudando. Ou não?