Imagens de satélite revelam 16 bases secretas de mísseis na Coreia do Norte
A Coreia do Norte avança com seu programa de mísseis balísticos em 16 bases ocultas identificadas em novas imagens feitas por satélites comerciais.
Especialistas em armas dizem que a Coreia do Norte, apesar de se envolver em negociações sobre desnuclearização, continua produzindo o material físsil que abastece as armas nucleares. O país teria hoje de 40 a 60 ogivas nucleares.
As imagens mostram uma base de mísseis chamada Sakkanmol, a pouco mais de 80 quilômetros da Zona Desmilitarizada. É uma das mais próximas da Coreia do Sul. Seul, a capital, fica a cerca de 130 km, assim como as tropas americanas.
A descoberta será divulgada em um estudo detalhado a ser publicado nesta segunda-feira (12) pelo programa Beyond Parallel, no Centro de Estudos Estratégicos e Internacionais, um importante grupo de pensadores em Washington.
O relatório contém uma dúzia de imagens de satélite de Sakkanmol --todas com muitas anotações que mostram a entrada da base, o prédio do quartel-general, os dormitórios, áreas de segurança, depósitos de manutenção e as entradas dos pavilhões de túneis subterrâneos que escondem mísseis móveis e seus caminhões de transporte.
A base ocupa um estreito vale de montanha numa área de 7,7 km². Cada entrada de túnel, diz o relatório, é protegida por um monte de pedras e terra com cerca de 18 metros de altura e duas portas abrindo para fora com cerca de 6 metros de largura. Eles servem para proteger as entradas de túneis de ataques de artilharia e aéreo.
O relatório diz que a base de Sakkanmol esconde sete extensos túneis que podem acomodar até 18 transportadores para mísseis. Cada um é geralmente equipado de uma ogiva.
Se as tensões aumentarem, diz o relatório, os mísseis seriam transportados da base para locais de lançamento pré-arranjados --muitas vezes uma simples mancha em uma estrada.
Os lançadores móveis podem se deslocar rapidamente --podem estar prontos para disparar em menos de uma hora--, e é por isso que os EUA vêm tentando colocar os pequenos satélites no céu para advertência precoce. Os satélites têm um tipo especial de sensor que usa "radar de abertura sintética" que atravessa as nuvens.
A atual constelação de grandes satélites de bilhões de dólares que vigiam a Coreia do Norte está muitas vezes fora de posição, e segundo autoridades os sítios de mísseis balísticos do país estão sendo vigiados menos de 30% do tempo. (O número exato é secreto.)
Um mapa da Coreia do Norte no relatório mostra três cinturões de bases de mísseis, que vão de locais táticos de curto alcance a outros com mísseis de médio alcance, que poderiam atingir a maior parte da Coreia do Sul, o Japão e bases americanas no Pacífico, a estratégicos para mísseis que poderiam alcançar o território dos EUA.
O programa Beyond Parallel se concentra nas perspectivas de integração entre as Coreias e é liderado por Victor Cha, um importante especialista norte-coreano que o governo Trump pensou em nomear embaixador na Coreia do Sul no ano passado.
Seu nome foi retirado quando ele objetou à estratégia da Casa Branca para lidar com Kim Jong-un, o líder norte-coreano.
Um porta-voz do Departamento de Estado respondeu às conclusões com um comunicado por escrito sugerindo que o governo acredita que os sítios devem ser desmontados: "O presidente [Donald] Trump deixou claro que se o presidente Kim seguir seus compromissos, incluindo a completa desnuclearização e a eliminação dos programas de mísseis balísticos, haverá um futuro muito mais brilhante para a Coreia do Norte e sua população".
Um porta-voz da CIA não quis fazer comentários.
Rede é conhecida há tempos pelos EUA
Essa rede é conhecida há muito tempo pelos órgãos de inteligência dos EUA, mas nunca foram discutidas publicamente. Ao mesmo tempo, o presidente americano, Donald Trump, afirma ter neutralizado a ameaça nuclear da Coreia do Norte.
As imagens sugerem que o país está envolvido em uma grande trapaça: ofereceu-se para desmontar um importante local de lançamento --medida que iniciou, mas depois suspendeu--, enquanto continuava aperfeiçoando mais de uma dúzia de outros pontos que reforçariam o lançamento de ogivas convencionais e nucleares.
A existência das bases de mísseis balísticos, que a Coreia do Norte nunca admitiu, contradiz a afirmação de Trump de que sua diplomacia original está conduzindo à eliminação do programa nuclear e de mísseis que, segundo advertiu a Coreia do Norte, pode devastar os EUA.
"Não temos pressa", disse Trump sobre as negociações com o Norte em uma entrevista coletiva na quarta-feira passada (7), depois que os republicanos perderam o controle da Câmara dos Deputados nas eleições legislativas.
"As sanções estão valendo. Os mísseis pararam. Os foguetes pararam. Os reféns estão em casa."
Sua declaração foi verdadeira apenas em um sentido: Trump parecia se referir à cessação dos testes de mísseis, que não ocorreram em quase um ano.
Mas autoridades da inteligência dos EUA dizem que a Coreia do Norte manteve a produção de material nuclear, de novas armas nucleares e de mísseis que podem ser colocados em lançadores móveis e escondidos em bases secretas nas montanhas.
E as sanções estão desmoronando, em parte porque a Coreia do Norte aproveitou seu novo e mais suave relacionamento com Washington, e seu compromisso declarado com a eventual desnuclearização, para retomar o comércio com a Rússia e a China.
Além disso, um programa americano para rastrear esses mísseis móveis com uma nova geração de satélites pequenos e baratos, revelado pelo "The New York Times" há mais de um ano, emperrou.
O Pentágono esperava ter agora os primeiros satélites sobre a Coreia do Norte, dando-lhe uma advertência rápida se os mísseis forem retirados dos túneis nas montanhas e preparados para lançamento.
Devido a uma série de disputas orçamentárias e burocráticas, entretanto, o sistema de aviso precoce iniciado pelo governo do democrata Barack Obama e entregue ao governo Trump ainda não entrou em operação.
Autoridades atuais e passadas, que não podiam discutir o programa em público porque é altamente secreto, disseram que ainda há esperança de lançar os satélites, mas não deram um prazo.
Diplomacia de Trump com a Coreia do Norte está em risco
A revelação das bases ocorre enquanto a peça típica de diplomacia de Trump, baseada em sua reunião com Kim há exatamente cinco meses, parece em risco.
Publicamente, Trump continua inabalável em seu otimismo, a ponto de dizer em um comício de campanha que ele e Kim, um dos ditadores mais brutais do mundo, "se apaixonaram".
Mas na semana passada as conversas com o Norte atingiram outro nó, quando o país declarou que não enviaria seu principal negociador para se encontrar com o secretário de Estado Mike Pompeo em Nova York para planejar a próxima cúpula.
Desde o primeiro encontro entre Trump e Kim, em 12 de junho, em Singapura, o Norte ainda não deu o primeiro passo para a desnuclearização: apresentar aos EUA uma lista de suas instalações nucleares, armas, locais de produção e bases de mísseis.
Autoridades norte-coreanas disseram a Pompeo que isso significaria lhe entregar uma "lista de alvos". Autoridades americanas responderam que já têm uma lista detalhada de alvos --que remonta a décadas--, mas querem usar o relato do Norte para decidir se está revelando todas as instalações conhecidas e avançando honestamente para a desnuclearização.
As novas imagens de satélites sugerem o oposto.
"Não é que essas bases foram congeladas", disse em uma entrevista Cha, o líder da equipe que estudou as imagens. "O trabalho continua. O que todo mundo teme é que Trump aceite um mau negócio. Eles nos dão um único local de testes e desmontam algumas outras coisas, e em troca ganham um acordo de paz."
Segundo ele, Trump "então declararia vitória, diria que conseguiu mais que qualquer outro presidente americano, e a ameaça continuaria lá".
Os especialistas em Coreia do Norte que examinaram as imagens acreditam que é muito fácil interpretar as motivações do Norte. "Parece que eles estão tentando maximizar suas capacidades", disse em uma entrevista Joseph Bermudes Jr., coautor do relatório e analista veterano de imagens de satélite da Coreia do Norte. "Qualquer míssil nessas bases pode transportar uma ogiva nuclear."
"O nível de esforço que a Coreia do Norte investiu na construção dessas bases e dispersá-las é impressionante", acrescentou ele. "É muito lógico de um ponto de vista de sobrevivência."
Tradução de Luiz Roberto Mendes Gonçalves