Intercâmbio no surfe? Viagens e campeonatos ao redor do mundo possibilitam troca cultural entre surfistas

Créditos de imagem: David Dvorquez, Everton Silva.

O inverno parece ter chegado mesmo por aqui. Porém, os dias têm sido agradáveis, com sol e temperatura entre 17 e 25 graus

Por Janaína Pedroso

Mas há quem diga que as manhãs estão geladas e o surfe não tem sido lá muito convidativo.

O que pode parecer um exagero para alguém acostumado com água gelada praticamente o ano todo como é o caso do surfista Gustavo Dvorquez Voldman, 18 anos, do Chile.

O atleta que vive na desértica Arica, uma das regiões mais secas do planeta, veio ao Brasil de férias. A cidade escolhida desta vez foi Ubatuba e as mais de 90 praias e índice pluviométrico anual de 2500 milímetros em média.

Ao invés de um Hostel, Airbnb, Pousada, Hotel ou Resort, Gustavo está hospedado na casa do amigo, o também surfista Guilherme Villas Boas, de 17 anos.

Os dois se conheceram em uma clínica de surfe há dois anos, realizada pelo coach de surfe Everton Silva.

Gui passeia no salão de El Gringo. Foto WSL / Nicolas Diaz

Bem diferente de um consultório médico ou qualquer coisa do tipo, as clínicas de surfe oferecem, entre outras coisas, a proposta de unir surfistas profissionais e os que desejam se tornar, em um verdadeiro “intensivão” de surfe.

Enquanto Guga descobre mais um secret brasileiro.

Espanhol versus Português

Depois da troca de experiência que acontece dentro da água, uma das vantagens deste intercâmbio cultural é o idioma.

Com um português invejável, Gustavo é um caso à parte pois aprendeu a língua ainda criança, com a mãe que é brasileira.

“Eu sou conhecido como o chileno brasileiro”, diz Guga aos risos.

Se por um lado Gustavo ostenta um belo português, por outro, Guilherme expressa o espanhol básico.

“Aprendi alguma coisa com ele, mas o básico, porque ele só quer saber de falar português comigo”, diz Gui.

O brasileiro também já esteve hospedado na casa do amigo chileno durante evento mundial da divisão de acesso (QS).

“Lá pude treinar mais o espanhol”, diz.

 

Farofa ou Porotos con Rienda?

A comida é outro atrativo quando se trata de intercâmbio cultural. Apesar dos costumes cada vez mais globalizados e o acesso mais fácil a ingredientes próprios de determinada região, viajar significa provar novos temperos e sabores.

“O Guga ama farofa. Ele coloca em tudo”, entrega Guilherme, que quando esteve na casa do amigo elegeu o “porotos com rienda” o melhor prato típico do Chile.

“É uma espécie de sopa de feijão com macarrão, um prato quente ideal pra esquentar os ossos depois de uma queda em Arica”, explica Guga.

Os dois se divertem no inverno tropical. Arquivo Pessoal.

Surfe competição, ame ou odeie

Pode soar divertida a vida de um surfista profissional, mas a rotina dos que sonham com a carreira também é cheia de obstáculos, que vão muito além dos riscos que a modalidade oferece por si só.

Inúmeras perdas, julgamentos duvidosos, falta de patrocínio, dores físicas e psicológicas rondam a cabeça desses jovens que foram agraciados com talento e biotipos favoráveis.

Ambos, Guilherme e Gustavo não pensam em faculdade, pelo menos, não agora. Prestes a finalizar o último ano do ensino médio o momento é de finalmente se dedicar ao surfe por completo.

“Ainda quero fazer uma faculdade, mas não agora”, diz Villas Boas. Enquanto o amigo sabe que apesar das dificuldades vai seguir em frente . “Eu sei muito bem o que eu mais quero da vida, então não vai funcionar se eu resolver fazer outra coisa agora”, explica.

Se perder faz parte do jogo, que seja então em bom estilo. “A meta é perder no CT, tem lugar melhor para perder?”, brinca Gui.

A parte boa fica por conta das inúmeras viagens, das milhares de ondas a serem surfadas, das amizades novas por fazer,  culturas e costumes a conhecer.

Sem contar os treinos a saúde e todo o contato com a natureza que o surfe é capaz de proporcionar.

O amigo observa Gui escalar as pedras chinelas depois de uma sessão de surfe. Foto David Dvorquez.

 

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