Interferência de Bolsonaro não é surpresa, mas provoca choque com Guedes
Jair Bolsonaro avisou. Dois dias depois do primeiro turno da eleição, o então líder nas pesquisas criticava a política de preços da Petrobras.
"Você não pode ter uma política predatória no preço do combustível para salvar a Petrobras e matar a economia brasileira. Qualquer coisa no combustível reflete no preço da mercadoria que tá lá na ponta", disse o candidato em entrevista à Band.
A imagem do presidente convertido à agenda econômica liberal sempre foi uma miragem. Embora tenha dado crédito ao guru Paulo Guedes, Bolsonaro sempre deixou claras suas inclinações favoráveis à intervenção do governo em setores específicos.
Desde a campanha, o presidente seguia na contramão do caminho traçado por Guedes. Os dois se chocaram de frente quando Bolsonaro telefonou para a cúpula da Petrobras e ordenou o congelamento do preço do diesel.
"Ninguém quer a Petrobras com prejuízo, mas também não pode ser uma empresa que usa do monopólio para tirar o lucro que bem entende", afirmou ele, na mesma entrevista do dia 9 de outubro.
Nos primeiros dias de governo, já estava claro que Bolsonaro e sua equipe econômica continuariam falando línguas diferentes. Ao tomar posse, o novo presidente da Petrobras achou até desnecessário dar destaque a um fato que, para ele, era evidente.
"Finalmente, atendendo a sugestões vou reafirmar o óbvio ululante. Preços de combustíveis obedecerão à paridade internacional", disse Roberto Castello Branco em 3 de janeiro.
Controlada pela União, a Petrobras estará invariavelmente sujeita a interferências políticas. Como o preço dos combustíveis tem impacto sobre o dia a dia da população, um governante precisaria de muito desprendimento e autocontrole para deixar suas mãos distantes da companhia.
Bolsonaro não tem nenhuma das duas características. É um populista como muitos outros políticos e seu passado desenhou um perfil intervencionista para assuntos econômicos.
Durante a paralisação dos caminhoneiros de 2018, ele apoiou o movimento e aproveitou para alimentar sua popularidade entre os motoristas. Num vídeo gravado às vésperas do início da manifestação, o então deputado reconheceu o poder do governo para interferir nos preços do diesel.
"Somente a paralisação prevista a partir de segunda-feira poderá forçar o presidente da República a dar uma solução para o caso", disse, na ocasião.