Investidores processam TV do México por pagar propinas a cartolas
Um grupo de investidores da Televisa está processando a gigante de televisão mexicana por perdas provocadas pelo pagamento de propinas que uma subsidiária da emissora teria feito para garantir o direito de transmissão de jogos das Copas do Mundo de 2018, 2022, 2026 e 2030.
Eles querem reparação pelos danos que o escândalo Fifagate teria provocado ao preço das ADRs (recibos de ações negociados na Bolsa de Nova York) da emissora.
Na ação coletiva, a empresa de fundos de pensão Colleges of Applied Arts & Technology Pension Plan, que lidera o processo, diz que os investidores perderam centenas de milhões de dólares desde que foi revelado que a Televisa obteve os direitos de transmissão da Copa mediante o pagamento de propinas, em vez de pelo “fair play”.
Por isso, agora buscam reparação para a empresa e para todos os que compraram ADRs da Televisa entre 11 de abril de 2013 e 25 de janeiro de 2018.
No processo, complementar a uma ação de 5 de março deste ano, os advogados do escritório Robbins Geller Rudman & Dowd dizem que a Televisa teria usado uma subsidiária suíça, a Mountrigi Management Group, para pagar os subornos a executivos da Fifa.
O chamado Fifagate engloba ações de suborno, fraudes e de lavagem de dinheiro. Os cartolas da Fifa teriam recebido pagamentos ilegais, que começaram em 1991 e atingiram duas gerações de dirigentes e executivos, que movimentaram mais de R$ 564 milhões.
A Televisa teria fraudado seus balanços por anos para acobertar as propinas pagas, mas auditores descobriram o esquema no final de 2017 após delações trazerem o escândalo à tona.
A ação diz ainda que a emissora conspirou com a empresa argentina Torneos Y Competencies e o ex-presidente da companhia Alejandro Burzaco para montar o esquema de propinas.
No começo de 2013, o executivo e o cartola da Fifa Julio Humberto Grondona teriam se encontrado em Zurique (Suíça) para assegurar os direitos de transmissão das Copas de 2026 e 2030. Além da Televisa e da Torneos, a brasileira Globo também estaria implicada no pagamento das propinas.
Grondona teria recebido US$ 15 milhões das três empresas --a Televisa teria transferido US$ 7,25 milhões à Torneos em abril de 2013 por meio da subsidiária suíça para garantir os direitos.
O processo lembra que, após a publicação de uma reportagem do jornal americano The New York Times expondo o caso, em outubro de 2017, as ADRs da Televisa caíram 5,6% na Bolsa de NY.
Em novembro do mesmo ano, novas notícias indicando que a mexicana era parte envolvida na conspiração levaram a uma queda de 2,4% nos papéis.
Procurada, a Televisa afirmou que as acusações não têm “fundamento legal algum, além de conter importantes erros de fatos”.
Segundo a emissora, os investidores omitem que a Televisa realizou uma investigação com advogados independentes que concluiu que não foi realizada nenhuma atividade relacionada às práticas de corrupção.
“Como se assinalou no ano passado, todos os pagamentos que a Televisa realiza seguem contratos de negócios devidamente requisitados e de maneira alguma são elaborados para pagamentos relacionados a qualquer conduta indevida.”
Quando o caso foi revelado, o Grupo Globo, detentor da TV Globo, negou ter feito qualquer pagamento de propina a dirigentes esportivos.
Na ocasião, em nota enviada à reportagem, o grupo afirma “veementemente” que “não pratica nem tolera qualquer pagamento de propina”.
“Após mais de dois anos de investigação [o Grupo Globo] não é parte nos processos que correm na Justiça americana”, lembra a empresa no comunicado.
O Grupo Globo afirma ainda que conduziu “amplas investigações internas” desde que o escândalo da Fifa foi revelado, em 2015. Nelas, ainda segundo o comunicado, foi apurado que o Grupo Globo “jamais realizou pagamentos que não os previstos nos contratos”.
Mesmo assim, o grupo afirmou que se colocará à disposição das autoridades americanas “para que tudo seja esclarecido”. “Para a Globo, isso é uma questão de honra”, completa a nota.