Investigado pela Lava Jato, Aloysio Nunes pede demissão do governo Doria
Investigado na nova fase da Operação Lava Jato, o ex-chanceler Aloysio Nunes Ferreira pediu demissão de seu cargo na gestão do governador João Doria (PSDB-SP).
Ele era presidente da Investe SP, agência de estímulo a investimentos no estado, e entregou sua carta de demissão em reunião na tarde desta terça (19), conforme a Folha havia adiantado.
Aloysio foi alvo de uma nova fase da Operação Lava Jato nesta terça (19). Ele diz ser inocente da acusação de que teria recebido um cartão de crédito de Paulo Vieira de Souza, o Paulo Preto, apontado como operador do PSDB e que teria negociado propinas da construtora Odebrecht.
Politicamente, sua situação era desconfortável para Doria. O governador se elegeu com um forte discurso em favor da moralidade, e a Lava Jato é o símbolo máximo da onda de revolta com a corrupção que desaguou na eleição de diversos nomes que encamparam essa bandeira —a começar pelo presidente Jair Bolsonaro (PSL).
O governador tucano estudava aplicar o "protocolo Kassab" para lidar com acusações graves contra subordinados na gestão estadual. Ele se refere à licença combinada entre Doria e o aliado Gilberto Kassab, manda-chuva do PSD que foi um de seus principais aliados na disputa estadual do ano passado.,
No fim do ano, Kassab foi alvo de uma operação da Polícia Federal e perdeu as condições políticas de assumir a Casa Civil de Doria, para a qual havia sido indicado. Pediu para se licenciar enquanto durarem as investigações, o que na prática o afasta praticamente de forma definitiva do governo.
O "protocolo Kassab" é uma reedição da chamada solução Hargreaves, usada pelo então presidente Itamar Franco quando surgiram denúncias contra o seu também chefe da Casa Civil. Henrique Hargreaves havia sido acusado de irregularidades, se afastou, mas acabou voltando ao cargo inocentado.
O próprio Aloysio, contudo, admitiu que não poderia ficar no governo. Politicamente, sua saída é menos danosa para os planos políticos de Doria do que a de Kassab, que estruturou seu secretariado visando uma articulação robusta para 2022, quando ou irá buscar a reeleição ou, a depender do cenário político, a Presidência.
O ex-chanceler era um dos dez antigos membros de primeiro escalão do governo Temer a ocupar cargos na gestão Doria. Sua indicação visava agradar a velha guarda do PSDB paulista, que perdeu controle do partido com a desastrosa campanha de Geraldo Alckmin à Presidência em 2018. Doria emergiu como líder de uma nova safra de nomes do partido, o que desagrada essa ala do tucanato.