Irritado com PSL, centrão ameaça derrubar decreto de Bolsonaro que isentou americanos de visto
Irritados com a falta de articulação política do governo Bolsonaro e com a reação do PSL nas redes sociais à prisão do ex-presidente Michel Temer, deputados do centrão ameaçam retaliar o governo no Congresso Nacional.
Parlamentares do PP, PRB, PR e DEM, além de outras legendas, passaram a discutir a aprovação de um projeto que anula a isenção do visto para viajantes dos Estados Unidos que visitam o Brasil.
A isenção unilateral da exigência de visto para os cidadãos dos Estados Unidos, Canadá, Austrália e Japão foi anunciada pelo presidente Jair Bolsonaro durante sua visita a Washington, no início desta semana.
O fato de a medida não ser acompanhada de reciprocidade —os brasileiros que viajam a esses países continuam precisando obter um visto— gerou críticas da oposição, que acusou o governo de se submeter aos interesses dos EUA.
Lideranças do centrão passaram a articular a derrubada do decreto de Bolsonaro, num recado contra a falta de articulação política do Palácio do Planalto.
“A decisão unilateral é esdrúxula. Não tem o menor sentido”, diz o líder do PR na Câmara, Wellington Roberto (PB). “É injusto abrir as portas para um país e não receber a reciprocidade.”
Desde a quinta-feira (21), o centrão aderiu a uma articulação da oposição para aprovar um projeto, apresentado pelo PSOL, que anula o decreto de Bolsonaro.
Os parlamentares querem votar, na próxima terça-feira (26), um requerimento de urgência que permita aprovar o texto do PSOL no mesmo dia.
Articulação com o Congresso
Entre os parlamentares, a relação com o governo Bolsonaro é de conflagração.
Além do desgaste acumulado das últimas semanas com a falta de articulação política do Planalto, a forma como aliados de Bolsonaro e o próprio presidente da República se manifestaram sobre a prisão de Temer e do ex-ministro Moreira Franco gerou uma insatisfação generalizada, principalmente entre parlamentares de partidos como PP, PRB, DEM e MDB.
Reunidos nesta quinta-feira (21) na residência oficial do Presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), deputados dessas legendas concluíram que, pelo tom dos congressistas do PSL nas redes sociais, Bolsonaro "não está interessado em formar maioria" na Câmara.
Eles citaram postagens de membros do PSL comemorando a prisão de Temer, o que, dizem, afasta o MDB do governo.
Além do mais, queixaram-se do ataque nas redes do filho do presidente, vereador Carlos Bolsonaro (PSC), ao presidente da Câmara.
Nesta quinta, dia em que também foi preso o ex-ministro Moreira Franco, sogro de Maia, Carlos Bolsonaro publicou em sua conta no Instragram uma postagem sobre a desavença pública entre o ministro Sergio Moro (Justiça e Segurança Pública) e o presidente da Câmara, seguida da mensagem: “Por que o presidente da Câmara anda tão nervoso?”
Outro alvo dos deputados dos partidos de centro foi a declaração do presidente Bolsonaro, pouco depois de desembarcar no Chile nesta quinta, sugerindo que a prisão de Temer seria uma consequência “de acordos políticos” em “nome da governabilidade.”
A revogação do decreto de Bolsonaro que isenta os americanos do visto não é a única retaliação que os parlamentares de centro estão preparando.
Eles também ameaçam boicotar a audiência do ministro da Economia, Paulo Guedes, na CCJ (Comissão de Constituição e Justiça) da Câmara na próxima terça (19), na qual ele planeja defender a reforma da Previdência e as mudanças nas aposentadorias dos militares.
Parlamentares do centrão telefonaram nesta quinta para o presidente da CCJ, Felipe Francischini (PSL-PR), e disseram que, no clima atual, seria melhor cancelar a sessão da comissão com Guedes.
A mensagem passada a Francischini foi que não há disposição entre as siglas do centrão de defender as mudanças no sistema previdenciário e que o ministro da Economia corre o risco de ficar sozinho na sessão com deputados do PSL e de partidos como PT e PSOL, radicalmente contrários à reforma.
Francischini manteve a sessão.
Preocupados com os prejuízos que as retaliações ao governo podem causar, aliados de Bolsonaro procuraram parlamentares do centrão e o próprio presidente da Câmara em missão de paz, para tentar evitar as derrotas legislativas na próxima semana.
Pessoas próximas a Bolsonaro tentam organizar um encontro do presidente com Maia no final desta semana, mas a agenda ainda não foi confirmada.