Jogador japonês treinará seleção do Camboja a distância
Pergunte-me um futebolista famoso do Japão, país longe de ter expoentes no esporte bretão, e eu respondo de imediato dois: Hidetoshi Nakata e Keisuke Honda.
O meia Nakata destacou-se na Itália, onde defendeu Perugia, Roma, Parma, Bologna e Fiorentina. Disputou três Copas do Mundo (França-1998, a primeira para a qual os japoneses se classificaram, Coreia/Japão-2002 e Alemanha-2006) e parou de jogar profissionalmente há 12 anos, ainda muito jovem – tinha 29 anos.
Teria enjoado de jogar bola (raridade isso), decidindo se dedicar a outras atividades de seu interesse, como a moda e a gastronomia.
Era bastante técnico e criativo para o nível médio do jogador japonês, sem contudo ser brilhante – até hoje o Japão não teve ninguém que resplandeceu nos campos de futebol.
Talvez alguém mais velho que eu e bastante conhecedor do futebol do Japão mencione Kunishige Kamamoto, atacante do time Yanmar Diesel que jogou nos anos 1960 e 1970 e o maior artilheiro da seleção de seu país (80 gols em 84 partidas, excelente média).
Pode ser que tenha sido extraordinário, mas não o vi jogar – o que me torna pouco habilitado para opinar – e durante seu período na ativa o Japão não disputou nenhuma Copa do Mundo.
Honda, ainda na ativa aos 32 anos, é uma espécie de sucessor de Nakata, com a diferença de ser canhoto e atuar mais ofensivamente e mais pelos lados do campo do que o compatriota fazia.
Pode-se afirmar que é um sucessor melhorado, pois mais artilheiro. Contando apenas as participações pela seleção, Honda fez 37 gols em 98 jogos. Nakata, 11 em 77.
Além disso, Honda teve mais sucesso nas três Copas do Mundo de que participou (África do Sul-2010, Brasil-2014 e Rússia-2018). Como Nakata, ele atuou em dez partidas, no total. Porém fez mais gols: quatro contra um.
Honda balançou as redes em todos os Mundiais, duas vezes no de 2010, uma vez em cada torneio subsequente. Nakata, só no de 2002.
Depois de ter passado por CSKA Moscou, Milan e Pachuca (México), Honda se transferiu recentemente para o Melbourne Victory, o atual campeão australiano.
Só que ele não se dedicará exclusivamente a jogar pelo clube. Terá um trabalho paralelo.
No início desta semana, houve o anúncio de que Honda será o treinador da inexpressiva seleção do Camboja, 166ª colocada no ranking da Fifa, que lista 211 países – Tonga ocupa a última colocação, e a Alemanha lidera.
“Quero ajudar a equipe do Camboja a ter um estilo de jogo definido e promover o país ao redor do mundo”, declarou Honda, que em 2016 fundou uma escola de futebol em Pnomh Penh, capital do país que faz fronteira com Tailândia, Laos e Vietnã.
Mas como conciliar as duas profissões, a de jogador e a de técnico, sendo que a Austrália, na Oceania, e o Camboja, na Ásia, são separados por mais de 5.000 km, com países como Malásia, Indonésia e Timor Leste, além de alguns mares do oceano Pacífico, no caminho?
A solução será heterodoxa: o ensino a distância, adaptado da educação para o futebol.
É o que informa o site oficial da A-League, a liga australiana de futebol. Ao tratar do assunto, o texto diz que Honda fará uma videoconferência por semana, a fim de orientar seus subordinados no Camboja – comissão técnica, física, médica etc.
Pois o Melbourne Victory, mesmo estando ciente das negociações do japonês com o Camboja à época de sua contratação, já adiantou que só vai liberar seu novo contratado para atuar presencialmente quando houver datas Fifa – os períodos nos quais os campeonatos nacionais são interrompidos para que as seleções possam atuar.
A Europa, por sinal, terá uma nova competição nessas datas, a Liga das Nações, que começará no dia 6 de setembro.
Não me recordo de um caso similar em que a instrução futebolística tenha sido realizada por comunicação visual, a milhares de quilômetros, entre dois continentes, periodicamente.
Honda será possivelmente o detentor do pioneirismo nessa temática.