Jogadores profissionais não são meninos
Parece que encontraram uma forma de maximizar grandes feitos ou de minimizar grandes responsabilidades. Nas duas situações basta infantilizar o sujeito. Foi assim no caminho percorrido para a classificação para a Copa, quando os jogadores da seleção, todos marmanjos, profissionais, alguns já pais, a cada conquista foram virando nossos “meninos”. Como se o fato de serem reduzidos em maturidade e experiência, apesar da idade, fosse capaz de enaltecer ainda mais suas conquistas. Tão menino e já marca gols tão lindos na seleção brasileira, que coisa. Na derrota, o “adjetivo” deu o tom condescendente. Perderam, mas nossos meninos lutaram tanto.
É chocante perceber como nossa sociedade tem o dom de infantilizar os homens. Dentro de casa, os pais, muitas vezes a mãe, ainda chamam o barbudo de 35 de menino. Em muitas relações, nós, mulheres, tratamos namorados e maridos como filhos ou como adolescentes incompetentes. Os julgamos por vezes incapazes de limpar uma casa, cozinhar, cuidar das crianças. O “menino” troca a barra da saia da mãe pela da mulher e lá permanece “menino”.
A gente avança dois passos e recua três em certos momentos quando falamos de igualdade. Queremos tanto chamar os homens para a responsabilidade de seus atos, mas na primeira oportunidade abraçamos essa atitude ridícula de infantilizá-los, como se precisassem de bajulação e cuidados pela inabilidade de lidar com aspectos presentes na vida de um adulto: vitórias, derrotas, críticas, elogios. Jogadores de futebol não são meninos. São homens criados, profissionais, que devem arcar com as responsabilidades inerentes à sua profissão.
Esses “meninos” de 26, 27, 28 anos, já deixaram para trás há muito os 16, idade que parte da população pede para que seja reduzida a maioridade penal. A tia Rosita acha que um moleque que roubou um pacote de biscoito merece ser preso porque já é adulto o suficiente para saber o que está fazendo. Mas quando vê os “meninos” da seleção chorando morre de pena porque, né, são só uns “meninos”, coitados.
Homens estão tendo que acertar uma conta bem alta de anos de patriarcado, revendo suas atitudes em relação às mulheres, seu comportamento dentro das relações afetivas e profissionais, seu papel de pai, seu lugar no mundo como homem. Podem (e devem) arcar com a cobrança do assédio e do machismo, mas não podem sofrer a cobrança da maturidade quando entram em campo e jogam bola porque são só “meninos”.
A esperança é que daqui a quatro anos, quando muitos deles já estiverem na casa dos 30, esse fenômeno da infantilização não se repita na imprensa e não ecoe entre os torcedores, porque é insuportável e também porque o fim dessa história nós já conhecemos.