Julgamento de mulheres ativistas expõe truculência da Arábia Saudita

A Arábia Saudita iniciou nesta quarta-feira (13) o julgamento de dez mulheres ativistas, detidas sem acusação desde o ano passado, em um caso que gera revolta internacional e joga luz sobre as violações de direitos humanos cometidas pelo regime de Riad.

As ativistas foram presas em maio do ano passado, semanas antes de o príncipe herdeiro Mohammed bin Salman anunciar medidas inéditas autorizando que mulheres dirigissem no país. Elas vinham fazendo campanha há anos pela igualdade de gênero, defendendo inclusive o direito das mulheres se sentarem atrás do volante.

Uma das ativistas julgadas é Loujain al-Hathloul, que já havia sido detida em ocasiões anteriores por publicar vídeos em que dirige um carro. “Depois de dez meses na prisão, … Loujain pode finalmente saber quais são as acusações contra ela, mas até agora ninguém sabe quais são as acusações”, disse em rede social Walid al-Hathloul, irmão da ativista.

As autoridades judiciais ainda não revelaram quais são as acusações contra as ativistas, e há o temor de que elas venham a ser julgadas com base em leis antiterrorismo, que estipulam pena de até vinte anos de prisão.

Veículos de imprensa alinhados à monarquia saudita atacaram as mulheres detidas, taxando-as de “traidoras” e “agentes de embaixadas” estrangeiras.

A ONG Anistia Internacional disse ter encontrado evidências de que as ativistas sofreram torturas e assédio sexual na prisão.

Na semana passada, mais de trinta países integrantes do Conselho de Direitos Humanos da ONU (Organização das Nações Unidas) emitiram um comunicado conjunto exigindo a libertação das ativistas sauditas.

“Pedimos que a Arábia Saudita adote medidas significativas parara garantir que todos os membros do público, incluindo defensores de direitos humanos e jornalistas, possam exercer livre e integralmente seus direitos”, diz o comunicado.

HISTÓRICO DE VIOLAÇÕES

Desde que foi alçado à posição de príncipe herdeiro em 2017, Bin Salman tem promovido reformas modernizantes na tentativa de melhorar a imagem internacional do país. Além de permitir que mulheres dirigissem, o herdeiro do trono saudita autorizou a abertura de cinemas e aumentou os investimentos em fontes de energia renováveis.

A faceta modernizante que Bin Salman apresenta para o mundo contrasta com o tratamento dispensado a opositores e membros de minorias dentro do país. O julgamento das mulheres ativistas recém-iniciado é mais uma mancha do histórico de direitos humanos da Arábia Saudita.

Não é de hoje que o país prende e tortura dissidentes. Por exemplo, o blogueiro Raif Badawi está preso desde 2012 sob a acusação de “insultar o islã” –crime pelo qual foi condenado a dez anos de prisão e mil chibatadas.

Em outubro, o jornalista saudita Jamal Khashoggi foi assassinado no consulado de seu país em Istambul, em um crime que causou indignação global e aumentou a pressão contra a Arábia Saudita.

Ademais, o reino de Riad é responsável pela morte de milhares de civis em sua intervenção na guerra civil no Iêmen.

Governado desde 1932 pela dinastia dos Saud, a Arábia Saudita é um dos países mais fechados do mundo. O regime saudita se mantém no poder graças às receitas da exportação de petróleo e ao apoio internacional oferecido pelos Estados Unidos e outras potências ocidentais.

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