Kyler Murray faz história, como primeira escolha no draft da NFL
Kyler Murray concluiu sua improvável transformação na noite da quinta-feira, evoluindo em menos de um ano de quarterback reserva em um time universitário de futebol americano e postulante a uma carreira no beisebol para a conquista do Troféu Heisman e seleção como primeira escolha no draft da National Football League (NFL) pelo Arizona Cardinals.
Murray deveria ter se tornado jogador de beisebol no Oakland Athletics, que o selecionou com a nona escolha no draft da Major League Baseball (MLB) no ano passado, prometendo-lhe luvas em valor de mais de US$ 4 milhões.
Mas depois do sucesso que conquistou em seu ano final pela Universidade de Oklahoma, Murray realizou seu sonho de infância ao se tornar o primeiro escolhido no draft da NFL, o que virtualmente lhe garante um contrato inicial no futebol americano em valor oito vezes maior que o prometido pelo Athletics.
"É surreal", disse Murray na quinta-feira. Ele estava usando um terno e colete cor de rosa, inspirado, disse, pelo filme "O Grande Gatsby", de 2013. Murray se tornou o segundo quarterback ganhador do Troféu Heisman pelo Oklahoma Sooners a ser escolhido em primeiro lugar no draft da NFL nos dois últimos anos. No draft de 2018, o Cleveland Browns selecionou Baker Mayfield com a primeira escolha.
Depois da escolha de Murray, veio uma sucessão de escolha de defensores. O San Francisco 49ers escolheu Nick Bosa, jogador de linha defensiva na Universidade Estadual do Ohio; o New York Jets selecionou Quinnen Williams, da Universidade do Alabama, em terceiro lugar; o Oakland Raiders ficou com Clelin Ferrell como quarta escolha; e o Tampa Bay Buccaneers escolheu o linebacker Devin White, da Universidade Estadual da Louisiana, em quinto lugar.
A única grande surpresa foi Ferrell, que não estava cotado como um dos primeiros escolhidos. O Raiders precisava de um reforço na sua linha defensiva, depois de trocar Khalil Mack com o Chicago Bears no começo da temporada passada, mas a expectativa era de que escolhesse o linebacker Josh Allen, da Universidade de Kentucky, que em lugar disso foi escolhido pelo Jacksonville Jaguars, na sétima posição.
O New York Giants, escolhendo em sexto lugar, ficou com o segundo quarterback do draft, Daniel Jones, da Universidade Duke. Como seu atual titular, Eli Manning, Jones foi treinado na universidade por David Cutliffe, que foi treinador de Manning na Universidade do Mississipi (e treinador de quarterbacks na Universidade do Tennessee, onde trabalhou com Peyton Manning, o irmão de Eli).
O Giants também selecionou Dexter Lawrence, jogador de linha defensiva da Universidade Clemson, com a 17ª escolha, e trocou sua escolha de segunda rodada e mais duas seleções com o Seattle Seahawks para ficar com 30ª escolha do draft, usada para selecionar o cornerback Deandre Baker, da Universidade da Geórgia.
O terceiro quarterback selecionado no draft foi Dwayne Haskins, da Universidade Estadual do Ohio, um dos finalistas ao troféu Heisman [que premia o melhor jogador de futebol americano universitário de cada temporada]. O Washington Redskins o selecionou com a 15º escolha.
O tema da primeira rodada, que será seguida por mais seis rodadas na sexta-feira e sábado, foi uma corrida por jogadores de linha defensiva. Oito jogadores dessa posição foram selecionados entre as 20 primeiras escolhas.
Entre os quarterbacks, uma recente escolha de primeira rodada deve ser colocada no mercado em breve: Josh Rozen, da Universidade da Califórnia em Los Angeles, selecionado com a 10ª escolha pelo Arizona Cardinals no ano passado.
Na quinta-feira, o Cardinals se tornou o primeiro time a selecionar quarterbacks na primeira rodada de draft em temporadas sucessivas desde 1983, quando o Baltimore Colts escolheu John Elway (contra a vontade dele, para depois transferi-lo ao Denver Broncos), em primeiro lugar, depois de selecionar Art Schlichter com a quarta escolha no ano anterior. Seria muito pouco ortodoxo - e talvez ilógico - manter Murray e Rosen no mesmo elenco.
Em lugar disso, é provável que o Cardinals opte por transferir Rosen - um atleta de 1,93 metro de altura e passador clássico, titular na maioria dos jogos do time no ano passado - a uma equipe com um titular estabelecido e mais experiente.
No Cardinals, Murray treinará sob o comando de Kliff Kingsbury, em seu primeiro ano como treinador principal; na Universidade de Tecnologia do Texas, Kingsbury jogou como quarterback e treinou a equipe usando o mesmo sistema de ataque "Air Raid" que ajudou Murray a conquistar o sucesso em Oklahoma. Murray mencionou seu recrutamento universitário, quando recebeu uma proposta da Universidade de Tecnologia do Texas, e disse que era bom "enfim poder jogar para o treinador Kingsbury".
Ele acrescentou que "isso é algo sobre o que vínhamos conversando há muito tempo". "Não gosto do nome 'Air Raid'", ele disse, sobre o esquema ofensivo que depende pesadamente do passe. "É simplesmente uma forma de ataque. Eu a definiria como explosiva. Gostamos de marcar muitos pontos".
Murray é mais baixo que os quarterbacks usuais da NFL, com 1,79 metro. A maior parte dos quarterbacks titulares da NFK tem 1,83 metro de altura ou mais. Mas ele é mais móvel que os quarterbacks clássicos que recuam para fazer passes, como Tom Brady, e sua ideia é jogar a posição de um modo mais parecido com o do agressivo Pat Mahomes, do Kansas City Chiefs, que se tornou um dos astros da NFL na temporada passada. Quarterbacks mais baixos, como Drew Brees e Russell Wilson, se deram bem na liga.
Jogadores menos convencionais para a posição (Cam Newton, Dak Prescott) também se destacaram, e o mesmo vale para aqueles que jogaram na universidade com sistemas ofensivos considerados arriscados demais para a NFL, como Mahomes, que jogou para Kingsbury na Texas Tech. A escolha do Cardinals significa que quatro das últimas cinco primeiras escolhas do draft envolveram quarterbacks, e oito das últimas 11, assim como 16 das últimas 22.
Bosa é o irmão mais novo de Joey Bosa, jogador de linha defensiva do Los Angeles Chargers e terceiro escolhido no draft de 2016, e filho de John Bosa, que foi jogador de linha defensiva no Miami Dolphins, no final da década de 1980. Em uma entrevista coletiva quinta-feira, Nick Bosa falou de diversos tuites controversos que admitiu ter apagado recentemente, entre os quais um em que ele chamava de "palhaço" o ex-quarterback Colin Kaepernick, do 49ers, que se ajoelhava durante a execução do hino nacional em protesto contra o racismo e a brutalidade policial.
"Aprendi com isso", ele disse. "Fui insensível em algumas das coisas que disse". Ele acrescentou que "acredito que meus colegas descobrirão que tipo de pessoa sou quando puderem me conhecer no vestiário".
A primeira rodada também viu a seleção de dois integrantes da forte linha defensiva da Universidade de Michigan: o linebacker Devin Bush, escolhido em 10º lugar pelo Pittsburgh Steelers, e o defensor Rashan Gary, oriundo de Paramus, Nova Jersey, selecionado com a 12ª escolha pelo Green Bay Packers.
Três jogadores de defesa da Universidade Clemson foram selecionados, entre os quais Christian Wilkins, com a 13ª escolha, pelo Miami Dolphins. Uma raridade foi a seleção de dois tight ends da Universidade de Iowa na primeira rodada: T.J. Hockenson, pelo Detroit Lions, com a oitava escolha; e Noah Fant, pelo Broncos, com a 20ª.
Uma multidão enfrentou a chuva na avenida central de Nashville, ladeada por casas noturnas com letreiros de neon. A avenida conduzia a um palco coberto montado à beira do rio Cumberland; do outro lado se via o Nissan Stadium, do Tennesseee Titans. A chuva não moderou o entusiasmo dos fãs por seguir o costume de todas as demais torcidas da NFL e vaiar Roger Goodell, o comissário da NFL, a cada vez que ele anunciava uma escolha.