Legado do estádio do Pacaembu estará nas mãos dos novos proprietários
É melancólico ver o estádio do Pacaembu quase esquecido, marginalizado no calendário do futebol brasileiro. Justamente quando ele tinha tudo para ser consagrado como o melhor e mais elegante palco esportivo da cidade. Foi tudo muito rápido: ascensão e queda se deram em pouco menos de 80 anos.
Quando foi inaugurada, em 1940, a arena era a maior do país. Foi superada apenas pelo Maracanã, dez anos depois. O tamanho nem era a maior prova da grandeza da engenharia paulista. Ao contrário, a construção tem um quê de genial ao imbricar-se perfeitamente no relevo, como se a estrutura não precisasse de nada mais que se deitar sobre as encostas das colinas ao redor. Encaixado no vale do córrego que lhe deu nome, o Pacaembu, parece um pequeno anfiteatro grego.
Não se engane o visitante, é pura falsa modéstia. Os frequentadores das feiras livres que se realizam aos seus pés, na praça Charles Miller, às terças, quintas, sextas e aos sábados, já aprenderam: de longe, na premiada barraca de pastel, no lado oposto da praça, a fachada parece uma delicada mureta em curva; de perto, chegando à portaria do Museu do Futebol, torna-se um imenso palácio.
Agora que está sendo privatizado, caberá ao dono encontrar um novo uso para o complexo esportivo. Encontrará um time grande para adotá-lo? Ou será cenário de competições juvenis? Vai ser reformado, como seu contemporâneo estádio de Montjuic, em Barcelona (que cresceu por dentro, mas manteve as formas externas)? Poderá sediar eventos musicais, como antes, ou isso permanece vetado?
Uma boa ideia seria reconstruir a concha acústica que fazia parte do conjunto original, prova de que a destinação do Pacaembu incluía eventos musicais. Sempre associado ao pior mau gosto paulistano, o prefeito Paulo Maluf mandou derrubá-la, em 1969, para construir a desconfortável arquibancada chamada “Tobogã”, cujas formas não dialogam com a elegância do conjunto.
Talvez o melhor que possamos pedir aos deuses das privatizações seja novos proprietários que tenham bom gosto e respeito com a memória da cidade.