Levithan diz que Trump tornou urgente discussão sobre igualdade nos EUA
O edital de um concurso da Polícia Militar do Paraná publicado na sexta-feira (10) aponta que é “desejável” um aspirante a cadete ter “masculinidade”. Segundo o texto, algo como “não emocionar-se facilmente”, nem “demonstrar interesse em histórias de amor”.
Ao ouvir a notícia, o americano David Levithan, 45, convidado do penúltimo dia da Bienal do Livro, no sábado (11), revira os olhos. “Não há o que discutir, isso é ridículo”, diz à Folha o autor de“Garoto Encontro Garoto” e “Will e Will”, que conquistaram jovens justamente pelo fato de desconstruírem conceitos do que seria ser masculino ou feminina.
“Quando não precisamos nos definir, procuramos ser o que a sociedade impõe. Precisamos mostrar aos jovens que há corpos e personalidades diferentes”, afirma.
Seu maior best-seller, “Todo Dia” (2013), é a base do filme homônimo em cartaz nos cinemas e um dos motivos pelos quais 400 pessoas lutaram por uma senha para ver o autor.
O protagonista, “A”, representa uma parcela crescente de jovens “não-binários”, que não se identificam com um gênero específico e tampouco se encaixam nas normas de comportamento sexual.
A trajetória de “A”, sujeito oculto sem corpo que narra uma troca diária de casca humana para viver a vida de outras pessoas, é seu maior sucesso na editora Record, que edita os livros de Levithan no país e já vendeu 200 mil exemplares deles por aqui.
“Fui o autor certo na hora certa. Comecei [em 2003] querendo mudar a ideia de tristeza atrelada à homossexualidade e escrever histórias felizes para adolescentes”, explica. “Descobri que a melhor forma de convencer pessoas sobre a importância da igualdade é lhes oferecendo outras versões de histórias.”
Por isso, seu próximo livro, “Someday” [ou “Algum Dia”, a ser lançado em 2019 no Brasil] é uma espécie de resposta ao conservadorismo que, nos EUA, teria culminado com a eleição de Donald Tremp.
Se “Outro Dia” trata do cuidado de uma pessoa com o corpo do outro, “Algum Dia” trata da “imoralidade” de um personagem que tira vantagem para fazer o que quiser com ele. “Tem muito a ver com esse momento pós-Trump, de usar o poder para fazer o mal”, diz Levithan.
“Se antes dele havia um consenso no mercado editorial da importância de falar de igualdade, agora, autores, editores e livrarias concordam que isso é urgente.”