Licenciatura a distância cresce 1.500% em dez anos em particulares

O número de matrículas em cursos de licenciatura a distância (EaD) em universidades particulares aumentou mais de 1.500% de 2005 a 2016, passando de 34,9 mil alunos para 559,6 mil em dez anos.

Só no curso de pedagogia, a quantidade de alunos saltou de 1.900 em 2005 para 354 mil em 2016, representando crescimento de 17.735%.

Os dados fazem parte do livro Professores do Brasil: Novos Cenários de Formação, lançado pela Fundação Carlos Chagas em parceria com a Unesco. O estudo realizado por quatro pesquisadoras faz um alerta sobre a formação docente no país e questiona a qualidade dos cursos de licenciatura oferecidos no módulo ensino a distância.

Apenas em 2016, das 944,7 mil matrículas registradas em áreas de licenciatura em universidades privadas, 36,6% foram na modalidade EaD, enquanto que nas públicas, do total de 579,5 mil matrículas, apenas 81,8 mil (5,4%) eram para formação EaD.

A pesquisa revela que, dentre os cursos de licenciatura, os que mais têm crescido são os de pedagogia e que a expansão das matrículas na licenciatura acontece, sobretudo, por meio da via privada. No início dos anos 2000, as matrículas para cursos de Pedagogia já eram 67,6% maiores nas instituições privadas do que nas públicas.

Em 2016, esse número saltou para 81,4%, sendo que mais da metade dos alunos de pedagogia (52%) frequentam cursos EaD em instituições privadas. No entanto, para cursos de licenciatura em áreas específicas (como física, história e matemática), as instituições públicas são as mais presentes.

O número de matrículas no setor privado já era maior do que no público, uma base de 54% e 45%, respectivamente, nos anos 2000 —diferença que se acentua até 2016, quando as instituições privadas passam a responder por 62% dos estudantes, enquanto as públicas ficam com 38% deles.

Apesar do aumento no número de matrículas nas licenciaturas em universidades privadas, a pesquisa aponta um dado importante: a quantidade de professores diminuiu nessas instituições e cresceu nas públicas.

Para as autoras do estudo, o crescimento do atendimento na educação básica se deve aos esforços de diversas políticas de ampliação das redes escolares de educação básica para universalizar o acesso, e isso fez crescer a demanda urgente por professores e gestores escolares —o que afetou a qualidade de suas formações. “Optou-se por cursos mais rápidos, ou programas de formação docente simplificados, apostou-se na modalidade EaD, sem forte regulação e monitoramento”, afirma Patrícia Cristina Albieri de Almeida.

A professora reforça que esse crescimento da educação a distância deve ser motivo de preocupação. “Esse crescimento [do EAD], e a gente sem saber da qualidade dessa forma de ensino, pode ter um efeito muito negativo na formação dos professores”, afirma.

Diante desse cenário, as pesquisadoras concluíram que o viés para oferta dos cursos na modalidade EaD é preocupante, pois as relações mais diretas com escolas, crianças e adolescentes, como recomendado pelo Conselho Nacional de Educação (CNE), gestores e educadores, e o acompanhamento de estágios, tornam-se, no mínimo, complicados. “O impacto dessas novas abordagens nas redes de ensino precisa ser considerado”, diz trecho do livro.

A autora Elba Siqueira de Sá Barreto destaca que houve uma priorização das licenciaturas nos últimos dez anos, sobretudo nas universidades privadas que, segundo ela, têm menos lastro com pesquisa científica e são ofertadas mais no módulo a distância. “Ou seja, está sendo feita uma formação muito superficial para esses professores e os próprios currículos do curso de pedagogia tem tratado muito mal a formação dos professores para os anos iniciais, principalmente para a educação infantil”, afirma.

A pesquisadora afirma que é preciso repensar a educação infantil com mais seriedade e profundidade nas condições específicas que ela exige e na formação do professor do 1º ao 5º ano do ensino fundamental. Além disso, Elba ressalta que é imprescindível melhorar a qualidade dos cursos de licenciatura para dar condições para que os alunos não desistam, uma vez que 50% dos estudantes abandonam o estudo por diversos fatores. As taxas de evasão também fazem parte do estudo.

 

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