Limites de emissão de poluentes impõem carros elétricos na Europa
O Salão do Automóvel de Genebra, na Suíça, que começa nesta terça-feira (5), está dominado pelos modelos elétricos, prioridade das montadoras obrigadas a respeitar as normas europeias de emissão de poluentes.
Genebra se mostra uma exposição de carros elétricos, como os veículos urbanos de Citroën e Honda, os SUV das marcas de luxo Aston Martin, Audi e Mercedes, o coupé da Skoda e até mesmo um Fusca, da Volkswagen.
As montadoras também apresentam lançamentos como a versão elétrica do Peugeot 208 e o e-Soul, um crossover compacto da Kia.
"A introdução do veículo elétrico foi anunciada várias vezes nos últimos anos. Desta vez é algo crível", afirmou Ferdinand Dudenhöffer, diretor do Automotive Research Center, sediado na Alemanha.
Para ele, são duas as razões principais para isso: as novas limitações de emissão de CO2 que passarão a valer no próxiimo ano, para combater o aquecimento global, e o dieselgate, o escândalo de fraude nos motores a diesel da Volkswagen, que reduziu a participação de carros movidos pelo combustível nas vendas.
"Não haverá retorno ao diesel, então não há outro remédio que entrarmos rapidamente na era da eletricidade", disse Dudenhöffer.
Além disso, o carro elétrico está tornando indispensável na China, o maior mercado mundial, com impulso do governo.
Algumas marcas tradicionais como Renault, Nissan, Hyundai e Kia já vinham investindo nesses veículos, mas agora todas as montadoras se veem obrigadas a seguir o mesmo caminho.
"Na Europa, todos os fabricantes investem no elétrico, mesmo que não estejam convecidos, e apesar de venderem [os modelos] com prejuízo", resume Tommaso Pardi, diretor da Gerpisa, um grupo de pesquisas sobre o setor automotivo.
Multa
As montadoras estão sujeitas a multas de até 1 bilhão de euros (R$ 4,3 bilhões) se não respeitarem o limite médio de emissão de 95 gramas de CO2 por quilômetro por veículo a partir de 2020, segundo estudo da consultoria BCG.
"Se as montadoras não venderem veículos elétricos suficientes, estarão arruinadas pelas multas", advertiu o chefe do grupo francês PSA (Peugeot, Citroën, DS, Opel/Vauxhall), Carlos Tavares, em entrevista ao jornal francês Le Figaro. Ele comparou as metas de emissões a "uma ameça que apela a uma reação darwiniana".
O problema, segundo ele, é que o mercado de veículos elétricos ainda é embrionário. Embora seja favorecido por uma maior oferta de modelos neste ano, e principalmente no ano que vem, há um risco muito grande de oferta dirante de uma demanda muito fraca.
"Mais de 300 [tipos de] veículos elétricos estão previstos de agora a 2025, é muito considerável", afirmou Thomas Morel, diretor-adjunto da MKinsey.
Em 2018, havia 25 modelos elétricos disputando o público europeu, um mercado que representava apenas 1,3% do total, apesar de um aumento de 50% nas vendas sobre 2017, de acordo com a Jato Dynamics.
O mercado vai crescer, mas o volume seguirá pequeno no curto prazo, afirmou o especialista Flavien Neuvy. "Não sei o que as montadoras farão para respeitar as metas de CO2", disse.
A Nissan, com seu compacto Leaf, e a Renault, com o urbano Zoe, lideraram as vendas de carros elétricos na Europa em 2018. No mundo todo, quem lidera é a californiana Tesla, que virou uma especialista em modelos de alto nível movidos apenas por eletricidade.
Seu Model 3 é o modelo premium mais vendido nos Estados Unidos, e desde fevereiro está disponível na Europa.