Lucy Ramos acredita em racismo para justificar temperamento de Vanda em 'O Tempo Não Para'
Rio de Janeiro
O passado de Vandeca Pitbull, apelido da advogada Vanda Lorde em “O Tempo Não Para”, ainda não foi revelado na trama. No entanto, a atriz Lucy Ramos, 35, acredita que o temperamento ácido de sua personagem seja resultado de episódios racistas, machistas e de abuso de poder com os quais precisou lidar no início da carreira.
“Por ser dura desse jeito, acredito que ela tenha passado por milhões de coisas pelo fato de ser negra. Além disso, essa é uma profissão muito machista, e ela está ali”, afirma Ramos, que define personagem como uma mulher de personalidade forte e extremamente correta. E foi por isso que seus funcionários lhe apelidaram de Vandeca Pitbull.
“Não é que ela seja chata, má ou algo parecido. Ela é exigente. É diretora jurídica de uma empresa grande como a SamVita, que tem mais de 2.000 funcionários e muito dinheiro envolvido. Se alguma coisa der errado, a culpa vai ser dela. Então ela é muito perfeccionista”, pontua a atriz.
A inspiração de Ramos para sua personagem foi Analu Nogueira, uma advogada de verdade, negra e diretora jurídica de uma grande empresa em São Paulo.
“Assim como a Vanda, Analu também começou a trabalhar jovem, aos 16 anos. Ela falou que sua chefe era muito dura e que só conseguiu ser respeitada por ela depois que se formou em direito. Antes disso, a chefe não falava com ela. Hoje, Analu é dura com os funcionários por causa daquela experiência no início.”
Na trama das sete da Globo, Vanda é extremamente dura com a estagiária Paulina (Carol Macedo), que fica chateada por não ter o reconhecimento profissional que julga merecer. Neste sentido, Ramos mostra que existe uma identificação entre as atitudes de Analu Nogueira e de Vandeca Pitbull.
“Vanda exige muito da Paulina porque já exigiram muito dela, da profissional que ela é. Ela fala que não quer que a Paulina se acostume mal. Quer que ela entenda que não tem moleza.”
Em um post recente de seu Instagram, Ramos afirmou que é tão exigente quanto sua personagem.
EMBATE
Na trama, a diretora jurídica da SamVita tem um embate com o ambicioso advogado Emílio (João Baldasserini), que se aproxima dos ex-congelados para provar a identidade deles e recuperar as terras da família, já sonhando com os bons honorários que isso pode lhe render.
“Entre os advogados, o Emílio é o mau-caráter, o oportunista. A Vanda é muito coerente, e tem essa crítica em cima dela porque ela é muito correta. Hoje em dia, quando a pessoa é muito correta, ela é chamada de chata, né. Então se for para pensar dessa forma, ela é chata.”
A atriz revela ainda que sua personagem foi estagiária do escritório de Emílio quando tinha 20 anos. Segundo ela, o advogado perseguiu a estagiária e os dois tiveram uma relação.
“Vanda diz que se fosse hoje, isso seria um assédio sexual. Ela tinha 20 anos e ele era o chefe da empresa. Mesmo diante disso tudo, eles ficaram. Então tem essa coisa mal resolvida entre os dois. Toda vez que eles se encontram sai faísca. Ela não vai com a cara dele.”
REPRESENTATIVIDADE
Animada com a repercussão da novela —que em São Paulo registrou os melhores índices de audiência de estreia desde 2012 e, no Rio, desde 2010— Lucy Ramos pede que as mulheres se inspirem em Vanda.
“Estamos vivendo esse momento de revolução feminina. Não só das negras, mas de todas as mulheres. Podemos sim realizar nossas vontades, sem medo de sermos felizes e do que alguém diga sobre nós. Se inspirem na Vanda porque a Vanda é isso”, afirma a atriz.
E acrescenta: “Em algum momento alguém pode ter dito que ela não podia, mas hoje ela está ali sendo diretora jurídica de uma empresa, em um cargo masculino, defendendo isso e sendo respeitada pela profissional que ela é”.