Maduro chama ajuda humanitária de 'migalhas de comida podre'
O ditador da Venezuela, Nicolás Maduro, qualificou nesta sexta (15) de "migalhas" de "comida podre" a ajuda humanitária enviada pelos Estados Unidos a pedido do opositor Juan Guaidó, reconhecido por 50 países como presidente interino.
"É uma armadilha, fazem um show com comida podre e contaminada", assegurou Maduro, durante um ato em Ciudad Bolívar, sudeste da Venezuela, reiterando que os Estados Unidos querem invadir militarmente a Venezuela.
Apesar das críticas, as forças armadas americanas vão transportar cerca de 200 toneladas de ajuda humanitária para a Colômbia em um avião de carga C-17, informou um integrante do Departamento de Defesa, sob anonimato.
O ditador culpou pela escassez de alimentos e remédios que afeta o país a "guerra da oligarquia" e as sanções dos Estados Unidos, que congelou contas e ativos venezuelanos. Caracas cifra em 30 bilhões de dólares o dano à economia.
"Agora eles têm a história da ajuda humanitária. Nos roubam 30 bilhões de dólares e oferecem quatro migalhas de comida podre", reiterou o governante.
Maduro assegurou que seu governo entrega a seis milhões de famílias caixas de alimentos a preços subsidiados, e que esta semana comprou 933 toneladas de medicamentos e insumos médicos. "Pagamos com nosso dinheiro porque não somos mendigos de ninguém", assinalou.
Um carregamento de remédios e alimentos está armazenado desde 7 de fevereiro em Cúcuta (Colômbia), na fronteira com a Venezuela, perto de uma ponte bloqueada por militares venezuelanos com contêineres e uma cisterna.
Guaidó assegura que essa assistência entrará de qualquer maneira em 23 de fevereiro, quando completará um mês de ter se declarado presidente encarregado depois que o Congresso —de maioria opositora— declarou Maduro "usurpador" ao denunciar sua reeleição como "fraudulenta".
Maduro acusou o opositor de 35 anos de ser um "fantoche" do presidente Donald Trump e um "Judas" por pretender "que o império americano invada e ocupe militarmente" o país e "se apodere" das riquezas petroleiras e do ouro da Venezuela.
"Isso se chama traição à pátria (...) O pior é estimular a loucura imperial de um governo extremista da Ku Klux Klan que está à frente da Casa Branca", manifestou.
Delegados de Guaidó anunciaram na quinta-feira na sede da OEA terem recolhido nas últimas três semanas mais de US$ 100 milhões em ajuda à Venezuela, que vive uma severa crise que provocou o êxodo de cerca de 2,3 milhões de venezuelanos desde 2015, segundo a ONU.
Maduro reiterou que acredita no "diálogo como a fórmula mágica" para resolver a crise venezuelana e disse esperar a convocação de uma negociação em virtude dos esforços de México, Uruguai e dos países caribenos do Caricom.
Guaidó disse que não participará de um diálogo "falso", depois de acusar o governo de ter ganhado tempo com negociações anteriores.
Reuniões secretas em NY
Apesar do acirramento das tensões, Maduro revelou, nesta sexta, que seu chanceler Jorge Arreaza se reuniu duas vezes com o representante especial norte-americano para a Venezuela recentemente em Nova York. "Fizemos duas reuniões com o senhor Elliott Abrams em Nova York", disse Maduro à agência Associated Press.
O mandatário reafirmou sua deposição a se reunir com Abrams. "Convidei Elliott Abrams a vir à Venezuela. Em particular, publicamente, em segredo. Diga onde, quando e como e eu vou", declarou.
O secretário de Estado americano, Mike Pompeo, respondeu que o fato de Maduro "ter dito publicamente que deseja conversar com os Estados Unidos não é novo", mas "mostra que ele está cada vez mais entendendo que o povo venezuelano está rejeitando seu modelo e que o presidente interino, [Juan] Guaidó, é ao mesmo tempo o líder constitucional daquele país e que liderará a Venezuela e seu povo rumo a eleições livres" e a uma recuperação econômica.