Maior canal do país, Globo não sabe lidar com choques da era digital

O princípio de alerta na Globo antecede as dúvidas sobre a ética de seus jornalistas e tem como pano de fundo o impacto financeiro das disrupções da era digital, que atingem todas as empresas de mídia.

No ano passado, a maior TV do país registrou uma redução de 38% na geração de caixa operacional, de R$ 2,3 bilhões para R$ 1,4 bilhão. Isso antes de Jair Bolsonaro.

A concorrência por profissionais já vinha crescendo. Rostos conhecidos que deixaram o canal, apresentadores como Evaristo Costa e William Waack, fecharam com concorrentes, que levaram também Mari Palma e Phelipe Siani.

Enquanto os eventuais substitutos de William Bonner caíam pelo caminho no jornalismo, no entretenimento o ator Marco Pigossi trocava quase uma década de novelas na Globo, no momento em que virou galã de “A Força do Querer”, pelas séries da Netflix.

A rede não só deixou escapar estrelas como passou a revisar contratos. Ao mesmo tempo, com a separação formal dos departamentos de jornalismo e esporte, foram flexibilizadas as regras para o segundo grupo.

Há menos de um mês, o narrador e apresentador Galvão Bueno foi responsável por um novo marco na Globo, ao gravar um anúncio para os voos da Gol, patrocinadora da Copa América: “Bem amigos da Gol, só aqui você não perde nenhum jogo, porque tem TV ao vivo para todos os destinos”.

Galvão não deixou de ser jornalista, mas agora faz propaganda. Já outras fontes paralelas de renda, de outros jornalistas da casa, teriam rompido limites éticos.

Desde a primeira revelação do jornalista Daniel Castro no site Notícias da TV, de que o apresentador Dony De Nuccio havia gravado vídeos internos para o Bradesco, esses limites se tornaram nebulosos.

Num dos vídeos, De Nuccio dizia: “Pois é, mais uma vez a Bradesco Vida e Previdência sai na frente e lança um novo plano de previdência privada que traz muito mais facilidade”.

A reação da Globo, então, não passou de um “alerta” ao jornalista. Com as revelações posteriores, de que De Nuccio negociou valores e gravou entrevistas com executivos do banco, a emissora ainda se limitou a uma “advertência”.

Foi só depois do pedido de demissão que a Globo anunciou em comunicado que pretende “reiterar” suas regras sobre o que é vedado, mas agora “em detalhes, levando em conta a era digital”.

Procurada, a emissora respondeu, por sua assessoria, que nela “os limites são bem rígidos: O que é jornalismo é jornalismo, o que é publicidade é publicidade. Não há nenhuma zona cinzenta”.

Que “jornalistas esportivos são evidentemente jornalistas, com um foco em uma atividade cuja característica mais acentuada é a de ser um espetáculo”. E que “o caso é absolutamente circunscrito a Nuccio”.

Por fim, a Globo disse que “na era digital os desafios são maiores e, por esse motivo, o tema está sempre sendo visitado”.

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