Mais da metade dos brasileiros não sabe quem é o vice de Bolsonaro, aponta Datafolha
Após quase cem dias de governo, a maior parte da população brasileira não sabe quem é o vice-presidente, eleito na chapa de Jair Bolsonaro (PSL).
Segundo pesquisa Datafolha, 59% não sabem dizer quem é o segundo na linha sucessória da Presidência, 37% acertaram o nome do general Hamilton Mourão (PRTB) e 4% erraram.
A pesquisa foi realizada presencialmente nos dias 2 e 3 de abril, com 2.086 pessoas de 16 anos ou mais, em 130 municípios. A margem de erro máxima é de dois pontos percentuais para mais ou para menos, dentro do nível de confiança de 95%.
Mourão assumiu a Presidência em cinco oportunidades, quatro durante viagens do titular e uma quando Bolsonaro foi operado.
Fazendo constantes contrapontos ao presidente, Mourão causa irritação na ala ideológica do governo.
Vocalizados sobretudo pelo polemista Olavo de Carvalho, os ataques ao vice aumentam sempre que o general se mostra mais conciliador que Bolsonaro.
Neste sábado (6), a agenda do vice resumiu a disputa.
Em Boston (EUA), para a Brazil Conference, evento organizado por estudantes da universidade Harvard e do MIT (Massachusetts Institute of Technology), conversou com Roberto Mangabeira Unger.
O professor é um dos principais conselheiros intelectuais de Ciro Gomes (PDT), que, por sua vez, foi um adversário ferrenho de Bolsonaro na campanha de 2018.
Sua abertura ao diálogo e à divergência já tinha irritado olavistas quando, por exemplo, Mourão lamentou o desconvite a Ilona Szabó, especialista contrária à facilitação do armamento civil, para o conselho nacional de política criminal, em fevereiro.
Neste sábado, Mourão também agendou um encontro com representantes da comunidade brasileira em Boston. A iniciativa foi interpretada como uma resposta a Bolsonaro, que, três semanas antes, criticara os imigrantes.
O presidente, durante sua viagem aos EUA, declarou à Fox News que "a grande maioria dos imigrantes em potencial não tem boas intenções nem quer fazer o bem ao povo americano". Depois ele se desculpou.
Em Boston, o vice-presidente também marcou uma reunião com o empresário bilionário Jorge Paulo Lemann. A aproximação de Mourão com o mercado é outro motivo de desagrado dos olavistas, que veem em seus movimentos uma tentativa de se apresentar como alternativa ponderada a Bolsonaro.
Nos quase cem dias de mandato até aqui, Mourão marcou posição em outros temas variados.
Depois de Bolsonaro dizer, recém-eleito, que transferiria a embaixada brasileira em Israel para Jerusalém, Mourão recebeu o embaixador da Palestina e negou que a mudança estivesse confirmada.
Ao contrário do presidente, que concordou com declaração do chanceler Ernesto Araújo, segundo quem o nazismo era um movimento de esquerda, Mourão declarou que, "de esquerda é o comunismo, não resta nenhuma dúvida".
Além de especulações sobre as intenções de Mourão, tais contrapontos despertaram uma "simpatia desconfiada" de setores da esquerda —desconfiada porque o general, antes de se tornar o segundo na linha sucessória, tinha posições mais extremadas. Em 2017, por exemplo, defendeu uma intervenção militar para resolver a crise política no país.
Já no cargo, o vice já disse, por exemplo, que o aborto deveria ser uma escolha da mulher e que a ida, afinal não realizada, do ex-presidente Lula (PT) ao velório do irmão era uma "questão humanitária".