Mais uma vez, na hora agá, depois de encantar, futebol holandês frustra
Quando comecei a escrever a coluna da última quinta-feira (9), totalmente dedicada à epopeia do Liverpool, pensei com meu botões embora estivesse de camiseta: “Corro o risco de ter de jogar tudo fora por causa do jogo entre Ajax e Tottenham. Vai que os ingleses ganham.”
Logo afastei a ideia, certo de que mesmo uma virada londrina não seria tão espetacular como a façanha dos Reds.
À medida que corria o jogo em Amsterdã, mais tranquilo ficava e mais agradecido a mim mesmo pela decisão de não esperar pelo outro jogo semifinal da Liga dos Campeões.
Afinal, a maravilhosa garotada do Ajax fazia 2 a 0 ainda no primeiro tempo e obrigava o Tottenham, sem seu artilheiro e ídolo Harry Kane, a fazer três gols para disputar a final.
“Sabe quando?”, eu desafiava meus botões, nessas alturas já de camisa, “nuuunca!”.
Por mais reviravoltas que esta Champions venha apresentando era mesmo demais imaginar a reação dos Spurs.
Não nego ter sentido uma certa preocupação quando o brasileiro Lucas Moura diminuiu para 1 a 2 logo no começo do segundo tempo.
Quando, aos 14 minutos, o mesmo Lucas empatou o jogo, tremi na base. “Será o capeta?”.
Quem manda na Champions, afinal, são os deuses dos estádios ou Satanás?
O jogo que já tinha sido muito bom no primeiro tempo, ficou sensacional no segundo, com direito a bolas nas traves dos dois lados, defesas espetaculares de ambos os goleiros até os 90 minutos regulamentares e mais cinco de acréscimos.
Pois foi quando o 95º minuto havia se expirado que Dele Alli deu um passe mágico para Lucas Moura vencer dois armários holandeses, bater de esquerda e fazer seu terceiro gol no jogo, o terceiro gol do Tottenham, o gol da classificação para uma final entre dois ingleses pela segunda vez na história da Liga dos Campeões.
O beabá do jornalismo ensina que entre dois fatos semelhantes, se você tem espaço para comentar apenas um, o mais recente tem preferência.
A final entre os dois times mais verticais do mundo, Liverpool e Ajax, estava cancelada.
A frustração holandesa com a Laranja Mecânica em 1974 e 1978, nas Copas do Mundo da Alemanha e da Argentina, ou com a seleção de 2010, também finalista na África do Sul, se repetia dolorosamente.
Por que a Holanda sempre perde no fim? Será por excesso de educação ou por vergonha de dar chutão?
Ou será porque algum holandês passou pelo Brasil e voltou contaminado pelo complexo de vira-latas?
Só sei que não troquei a coluna, mas por absoluta falta de condições emocionais, chocado com a nova injeção de futebol na veia e ainda convalescendo após 15 dias de hospitalização.
Meio a sério, meio à brinca, qual Macunaíma, resolvi que o futebol brasileiro permite tão poucas homenagens ao futebol que esta coluna dominical também seria dedicada à Champions.
Tomara que Atlético-MG x Palmeiras e Inter x Cruzeiro produzam neste domingo (12) 10% do que vimos nos jogos europeus.
É improvável? É improbabilíssimo, embora não custe, ao menos, desejar.
Ainda mais depois dos jogos de Inter, Grêmio, Cruzeiro, Flamengo, Palmeiras e Athletico-PR pela Libertadores.
Todos classificados, o Palmeiras até com a melhor campanha, mas sempre com um futebolzinho na conta do chá, nada que lembre o que vimos em Liverpool e em Amsterdã horas antes dos jogos pelos gramados destes lados do mundo.
Resta ler Kafta e comer kafka...
Além de ter muita paciência.