MDB promove armistício entre seus caciques para garantir sobrevivência
A cúpula do MDB articula um armistício entre suas principais lideranças para tentar garantir a sobrevivência do partido e protagonismo no Congresso durante o governo de Jair Bolsonaro (PSL).
O plano foi colocado em marcha no início desta semana e terá ao menos duas frentes: manter o controle do Senado com Renan Calheiros (AL) na presidência da Casa e ecoar o discurso de que a sigla será independente —e não oposição— a partir de 2019.
Isso vai permitir tanto um alinhamento à pauta econômica de Bolsonaro, principalmente quanto à reforma da Previdência, como deixa a porta aberta para que o partido se afaste do novo governo quando achar conveniente.
Dirigentes do MDB consideram o futuro da gestão Bolsonaro bastante incerto. Afirmam que é preciso esperar que ela comece de fato para entender como o Planalto vai estabelecer sua correlação de forças com o Congresso.
O capitão reformado se elegeu com um discurso antissistema, anticorrupção e contra a velha política e tem dito que não vai governar cedendo cargos em troca de apoio político.
Já nomeou, porém, dois deputados do DEM para seu primeiro escalão: Onyx Lorenzoni (Casa Civil) e Tereza Cristina (Ministério da Agricultura).
O presidente do MDB, senador Romero Jucá (RR), preferiu se escaldar. Afirmou que acabou a era de seu partido como o “da governabilidade”.
Não descartou, no entanto, conversar sobre possíveis convites caso o presidente eleito procure a legenda para compor sua Esplanada.
Enquanto isso, Jucá tenta unir as correntes emedebistas para fortalecer o partido.
O principal conflito foi resolvido na segunda-feira (5). Pelo menos por enquanto, Renan Calheiros e o presidente Michel Temer selaram o cessar-fogo após reunião no Planalto.
O senador fez duras críticas a Temer e aproximou-se da esquerda e do PT para garantir sua reeleição em Alagoas —onde a popularidade do ex-presidente Lula é alta, e a de Temer, baixíssima.
Agora, dizem aliados, entendeu que a conjuntura é outra e que precisa do apoio de seu partido para se eleger presidente do Senado, cargo que já ocupou outras três vezes.
No início da semana, Renan foi à casa do deputado Heráclito Fortes (DEM-PI) acompanhado do ex-presidente José Sarney (MDB). Falaram sobre a disputa no Senado, e Renan mostrou que já contabiliza os votos que tem a seu favor.
Publicamente, contudo, diz que não tratou com Temer —nem com ninguém— de articulações para a presidência da Casa, até porque ainda não decidiu se será candidato. “Mas não teria condição nenhuma de sê-lo se não tivesse capacidade de conversar com as pessoas”, disse ele à Folha.
A estratégia do MDB é não desgastar Renan até a eleição no Congresso, marcada para o início do próximo ano, e até permitir que outros nomes se movimentem para o posto, como é o caso da líder do partido na Casa, senadora Simone Tebet (MS).
É tradição que o partido de maior bancada presida o Senado —o MDB contará com 12 senadores em 2019.
Na Câmara, porém, a legenda sofreu forte revés e caiu de 66 deputados eleitos quatro anos atrás para 34 este ano.
Com a presidência do Senado na mão —o presidente é também o chefe do Congresso—, a sigla não pretende mediar questões administrativas do novo governo, como a fusão de ministérios, mas quer poder para barrar projetos e capitalizar eventuais sucessos da política econômica.
Na quarta-feira (7), dirigentes do MDB se reuniram em Brasília para debater os próximos passos do partido.
Divulgaram um documento, antecipado pela Folha, com uma espécie de receita para o governo Bolsonaro.
Caso queira ter sucesso à frente do Planalto, dizem emedebistas, o presidente eleito deve manter a política econômica de Temer, baseada no ajuste e reformas estruturais.
Renan já fez acenos a Bolsonaro e falou em uma “convergência programática”.
Um dos filhos do presidente eleito, Flávio Bolsonaro, respondeu no mesmo dia e disse que não descartava apoiar nomes do MDB, como o de Renan, para o comando do Senado —o primogênito do capitão reformado foi eleito senador pelo PSL do Rio.
O temor do MDB a partir de janeiro é o futuro de Temer.
Com duas denúncias de corrupção, lavagem de dinheiro e organização criminosa, emedebistas avaliam que o presidente vai se tornar alvo preferencial da Justiça quando perder o foro especial, o que pode desgastar ainda mais a imagem do partido.
Partido encolheu nas eleições de outubro
34 deputados federais foram eleitos pelo MDB em 2018. Em 2014, haviam sido 66
Três emedebistas se elegeram governadores neste ano (PA, AL e DF). Quatro anos atrás, tinham sido sete