Melhor ter imprensa capengando do que não ter imprensa, diz Bolsonaro
Poucas horas após o ministro Alexandre de Moraes, do STF (Supremo Tribunal Federal), revogar a censura aos sites da revista Crusoé e O Antagonista, o presidente Jair Bolsonaro (PSL) defendeu a liberdade de expressão no país, afirmando que é melhor ter uma imprensa “capengando” do que não ter imprensa.
Em transmissão ao vivo em uma rede social no início da noite desta quinta-feira (18), Bolsonaro cumprimentou Moraes, que revogou decisão dele próprio que censurava os sites por terem publicado reportagens sobre o presidente da corte, Dias Toffoli.
Relator de inquérito aberto para apurar fake news, ofensas e ameaças contra o Supremo, Moraes determinou que fossem retiradas do ar reportagens que faziam menção ao apelido de Toffoli na Odebrecht com base em um documento entregue pela empreiteira à Lava Jato em Curitiba.
Nesta quinta, Bolsonaro disse que a imprensa é importante, “ninguém duvida disso”.
“As mídias sociais também são importantes. E eu falei para a imprensa, em que pese alguns percalços entre nós, nós devemos nos entender para que a chama da democracia não se apague”, afirmou. “É aquela velha história, é melhor uma imprensa às vezes capengando do que sem ter imprensa (sic).”
O presidente disse que quer manter diálogo com a imprensa. “Imprensa brasileira, estamos juntos. Pode ter certeza que esse namoro, esse braço estendido aqui, estará sempre à disposição de vocês.”
Ao final da transmissão, que durou 25 minutos, em vez dos 15 inicialmente previstos por Bolsonaro, o presidente voltou a criticar reportagem do UOL publicada pela Folha sobre o aumento do gasto do governo federal com publicidade.
“Folha e UOL, todo mundo conhece nossa querida Folha de S.Paulo. Divulgou esse dias que nosso gasto foi 63% maior que o mesmo período do governo [do ex-presidente Michel] Temer. Mentira. Mais uma, né?”, disse.
O levantamento do UOL, com base em dados da Secom, apontou que pagamentos com publicidade do governo federal cresceram 63% no primeiro trimestre deste ano em relação ao mesmo período de 2018, indo de R$ 44,5 milhões para R$ 75,5 milhões. A reportagem já havia indicado que os gastos eram referentes a despesas contratadas na gestão Michel Temer.
Segundo o presidente, a fatura de dezembro, do antigo governo, foi paga em janeiro e fevereiro. “Não é da nossa conta, é do governo anterior. Então o pessoal faz essa divulgação mentirosa desses números e daí, então, bota embaixo: 'olha, esse governo que falou que ia conter os gastos está gastando mais com publicidade'”, criticou.
Bolsonaro negou ter intenção de perseguir nenhum veículo de comunicação ao decidir os gastos publicitários do governo. “Mas vamos usar um critério técnico. Não vai ser mais aquela televisão conseguindo 85% da propaganda e os demais 15%. Vai ser técnico.”
Passaporte diplomático a Edir Macedo
O presidente defendeu a concessão do passaporte diplomático ao líder da Igreja Universal do Reino de Deus, Edir Macedo, e sua mulher, Ester Eunice Rangel Bezerra. A Justiça Federal suspendeu os efeitos de portaria que garantiu o documento a Macedo. “Levei pancada até não querer mais.”
Bolsonaro afirmou que o passaporte foi concedido no governo do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva e renovado na gestão de Dilma Rousseff.
Segundo Bolsonaro, a concessão do passaporte não é uma festa. “É para quem precisa, para quem viaja o mundo todo, porque tem certos benefícios que ajudam na vida de andar pelo mundo.”
Viagens de Eduardo Bolsonaro
Bolsonaro falou sobre a viagem do filho, deputado federal Eduardo Bolsonaro (PSL-SP), à Hungria, onde se encontrou com o primeiro-ministro, Viktor Orbán. “Ele gosta de fazer isso aí, viajar pelo mundo. Tenho certeza de que bons frutos colheremos dessa viagem à Hungria”, disse o presidente, que acrescentou que pretende viajar ao país e à Polônia no segundo semestre para “aprofundar laços de amizade e comerciais.”
Questão indígena
A demarcação de terras indígenas também foi abordada na transmissão ao vivo. O presidente defendeu que os índios “querem se integrar à sociedade e deixar de ser escravizados por homens e por alguns, minoria, de políticos e espertalhões no Brasil”.
Ele acusou ainda o governo do ex-presidente Fernando Collor de ter começado uma verdadeira indústria de demarcação de terras indígenas.”
Lei Rouanet
A regra foi chamada de “desgraça” e de “festa” pelo presidente, que disse que era usada para cooptar classes artísticas para apoiar o governo.
“Quantas vezes você não viu figurões defendendo 'Lula Livre', 'Viva Che Guevara', 'o socialismo é o que interessa', em troca da Lei Rouanet?”, questionou.
Ao comentar a redução do teto de R$ 60 milhões para R$ 1 milhão, Bolsonaro afirmou que considera o limite ainda alto. “Mas diminuímos 60 vezes o valor desse teto”, disse.
Seguro-defeso
Além da lei Rouanet, o presidente afirmou também que há uma festa no seguro-defeso, assistência financeira temporária a pescadores. Segundo ele, dois terços das concessões são fraudes. “Tem gente que mora na costa do Brasil que nem sabe que água do mar é salgada, mas recebe seguro-defeso.”
MST
Bolsonaro comentou a queda no número de invasão de trabalhadores sem-terra no primeiro trimestre, de 43 para 1. “Estou achando que foi muito, vamos buscar o zero”, disse. Ele afirmou que, no que depender de sua atuação, o ato será tipificado como terrorismo.
Posse de armas
O presidente defendeu novamente que donos de imóveis possam se defender atirando eventuais invasores. “E, se o outro lado decidir morrer, é problema dele.” Segundo ele, o projeto do ministro Sergio Moro (Justiça) busca reforçar a legítima defesa em caso de invasão de propriedade privada.