Mercado não vê centrão como entrave a Alckmin na condução de reformas
A presença de partidos que apresentaram resistência ao projeto de reforma da Previdência do governo Temer no chamado centrão, cuja cúpula decidiu nesta quinta-feira (19) apoiar Geraldo Alckmin (PSDB) na disputa presidencial de outubro, não abalou o bom humor dos investidores.
A Bolsa brasileira sobe, enquanto o real lidera valorização ante o dólar entre 31 das principais divisas do mundo.
"A notícia mostra para o mercado que candidatos que não vinham apresentando um programa de reformas estruturantes, um discurso de que o investidor gosta, podem perder força", diz Alvaro Bandeira, economista-chefe da Modalmais.
O Ibovespa, índice que reúne as ações mais negociadas da Bolsa, avançava 2,1% por volta do meio-dia, ao patamar de 79 mil pontos que não alcançava desde a penúltima semana de maio. Às 13h, registrava 78.955 pontos.
Pelo mundo, as bolsas europeias caem em meio às ameaças comerciais entre Estados Unidos, Europa e China, enquanto os mercados americanos avançam timidamente.
O dólar comercial recuava 1,82% ante o real às 12 horas (horário de Brasília), para R$ 3,776. A moeda americana perde força também pelo mundo depois que o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, criticou a política de aumento de juros do banco central do país —sinalizações de taxas mais altas atraem fluxo de capital aos EUA e vice-versa.
Após longo tempo de indefinição, líderes do centrão decidiram apoiar Alckmin, o candidato preferido do mercado, isolando Ciro Gomes (PDT), que é visto por investidores como um nome avesso às reformas que eles avaliam serem essenciais economicamente para o país.
O anúncio oficial do acordo, antecipado pela Folha, só deve ocorrer na próxima quinta (26). Até lá, os comandos de DEM, PP, PR, SD e PRB vão informar as instâncias inferiores de seus partidos e resolver questões de alianças nos estados.
"Teoricamente, é uma turma que poderia gerar desconfiança, mas o mercado demonstra entender que Geraldo Alckmin vai tomar as rédeas do negócio", diz Fabrício Stagliano, analista-chefe da Walpires Corretora.
"Para investidores, uma esquerda ou um centro-esquerda fortes não seriam bons, e Alckmin, com toda a debilidade que tem de expressão e captação, seria o menos ruim. Estrategicamente, é uma ajuda, porque ele vai ganhar mais tempo de TV", afirma Marco Tulli, da Coinvalores.
Com o apoio do centrão, Alckmin, que tinha sozinho 1 minuto e 18 segundos na propaganda eleitoral na TV (em cada bloco de 12 minutos e 30 segundos), somará 4 minutos e meio, quase 40% de toda a fatia da disputa. Adversário histórico do PSDB, o PT, que ainda não fechou nenhuma aliança, tem 1 minuto e 34 segundos.
Apesar do ânimo inicial, Stagliano ressalta que o otimismo dos investidores pode ser precipitado. "O mercado tende a ficar bem volátil conforme caminhamos para os 'finalmente' da eleição, as coisas ainda estão bem incertas. Movimentos de euforia, como o de agora, e também de pânico, com quedas fortes, devem acontecer com frequência", afirma.