Milhares de manifestantes protestam contra juiz indicado por Trump nos EUA
Milhares de manifestantes protestaram nesta quinta (4) em Washington contra a nomeação do juiz conservador Brett Kavanaugh para a Suprema Corte dos Estados Unidos.
Ele foi acusado por três mulheres de agressão sexual, sendo que uma delas, Christine Blasey Ford, depôs na Comissão Judiciária do Senado americano. O juiz nega as acusações. A votação no plenário do Senado que pode alçá-lo à mais alta corte do país está prevista para este sábado (6).
O ato foi organizado pela ACLU (American Civil Liberties Union), organização que luta pelos direitos e liberdades individuais dos americanos. Eles não souberam estimar exatamente quantas pessoas foram ao centro da capital americana.
Os participantes —mulheres, em sua maioria— começaram a se reunir por volta das 12h (13h em Brasília) na Corte de Apelações do Distrito de Colúmbia, onde Kavanaugh atuava como juiz desde 2006, passaram pela Suprema Corte e seguiram para o Senado.
Bradavam frases como “Acreditem em sobreviventes, não em bêbados mentirosos”, “Kavanaugh não é bem-vindo aqui” e “Em novembro, nós vamos nos lembrar”, em uma referência às eleições legislativas de 6 de novembro, na qual os democratas podem recuperar maioria em ao menos uma das casas do Congresso, hoje com maioria republicana.
A estudante Peyton Sander, 17, do estado de Connecticut, vestiu-se com os trajes que as servas da série de televisão "Handmaid’s Tale" usam. A trama retrata um futuro distópico no qual mulheres são subjugadas e, as férteis, transformadas em escravas sexuais.
Para ativistas a favor da descriminalização do aborto, Kavanaugh também poderia representar um risco à autonomia das mulheres, já que tem posições conservadoras em relação ao tema e poderia reverter o Roe v. Wade, caso que legalizou o procedimento nos Estados Unidos.
“A sua raiva foi convincente, mas não acredito mais nele do que na Dra. Ford”, disse Sander. “Se ele for escolhido, a mensagem será de que os homens não são responsáveis por suas ações.”
Para a advogada aposentada Deborah Dupont, 67, a sua nomeação vai diminuir o prestígio da Suprema Corte. “Um juiz precisa ter a reputação imaculada, é um cargo muito estimado”, afirma. “Deus pode perdoá-lo, mas não o indicaria para a Suprema Corte.”
Já a professora Aimee Ledwell, 43, de Massachusetts, está “apavorada” com a possibilidade de ele ser aprovado. Ela foi para o ato com o nome de cerca de dez amigas vítimas de algum tipo de abuso sexual escritos em seu braço.
“Quero que meu filho cresça em um mundo melhor”, diz. “Não é aceitável ter alguém mentiroso na Suprema Corte.”
O ato incluiu desde integrantes de movimentos como o feminista Code Pink até mães com filhos em carrinhos de bebê.
A cantora Milck, a atriz Amy Schumer e a senadora Kirsten Gillibrand também participaram do ato. A senadora Elizabeth Warren, cotada para concorrer à Presidência em 2020, também apareceu no local rapidamente e foi muito aplaudida.
Algumas poucas pessoas apoiaram Kavanaugh e Donald Trump durante a tarde, ostentando adereços com o slogan “Make America Great Again”. Um homem gritava “Deus abençoe Kavanaugh” e “Não sejam manipulados” em meio aos manifestantes. Ele disse que teve o celular quebrado e o cartaz, tomado por ativistas. Foi repreendido por gritos de “vergonha!”
Oito sobreviventes de ataques sexuais —entre eles, um homem— subiram ao palco montado em frente à Suprema Corte pelos organizadores do ato. Eles se apresentaram e pediam para os senadores acreditarem nos sobreviventes.
Algumas das mensagens foram direcionadas para os indecisos, como Susan Collins, Jeff Flake e Lisa Murkowski, cujos votos poderiam ser decisivos para a aprovação do juiz.
Quando a notícia de que a republicana Heidi Heitkamp votaria contra Kavanaugh foi divulgada, a plateia foi ao delírio. Uma parte dos manifestantes seguiu depois para o Senado no fim da tarde. Alguns deles foram detidos pela polícia do Capitólio, entre eles a atriz Amy Schumer.