Ministro da Defesa defende decisão sobre venda da Embraer só depois das eleições

O ministro da Defesa, Joaquim Silva e Luna, defendeu nesta quarta-feira (1) que a Embraer e a Boeing levem ao governo federal o pedido de aval para a fusão das empresas somente depois do período eleitoral.

O governo detém “golden share” na Embraer, espécie de ação especial que lhe dá direito a decisões estratégicas da companhia. Quando consultado, o governo terá um prazo de 30 dias para emitir opinião sobre o negócio.


“Imaginamos que as pessoas que estão tratando desse assunto tenham a sensibilidade de trazer esse tema ao governo depois de passado esse período [eleitoral]. Então lá pelo mês de novembro, final de outubro. É o nosso entendimento. Se isso for trazido agora, entendemos que isso pode embolar alguma coisa ou dificultar as negociações”, disse Luna.

 

As declarações foram dadas à imprensa logo após a assinatura da nova edição do Pese (Programa Estratégico de Sistemas Espaciais), projeto coordenado pelo Comando da Aeronáutica, em Brasília.

No dia 5 de julho, a norte-americana Boeing confirmou em memorando que trava entendimento com a companhia de aviação brasileira. Foi acertada a compra de 80% da divisão de jatos comerciais da Embraer por US$ 3,8 bilhões.

O ponto nodal na discussão que interessa ao Ministério da Defesa é o destino da divisão da Embraer que trata de equipamentos e aviões de defesa, incluindo projetos estratégicos como a fabricação de caças, com tecnologia da Suécia, e de jatos cargueiros.

Segundo críticos, com a fusão o Brasil corre o risco de perder conhecimento tecnológico e capacidade industrial na área de defesa, comprometendo a soberania nacional a médio e longo prazos.

Apesar de temer que as discussões políticas durante as eleições prejudiquem a análise sobre o negócio, o ministro da Defesa disse que os projetos estratégicos não estão comprometidos. Ao mesmo tempo, reconheceu que o tema preocupa o ministério.

“Defesa é um problema nosso, do Brasil, de todos os brasileiros. Preocupa. Então há a necessidade, o Ministério da Defesa defende isso, que os projetos em que a Embraer está envolvida na parte de defesa, sejam preservados, 100% sob [governança do] Brasil”, disse o ministro.

Indagado se o governo não foi deixado à parte na discussão até aqui, o ministro disse que não, que "se interceder agora, está interferindo num assunto de empresas que são privadas".

"Há um grupo de trabalho que acompanha essas negociações com representantes do ministério da Defesa, Aeronáutica, Fazenda e BNDES. Acompanha os trabalhos, no entanto, não foi convidado a se manifestar em nenhum momento. [...] O que está desenhada é a criação de uma joint venture, seriam duas empresas, uma com as ações em sua maioria da Boeing, da ordem de 80%/20%, e uma outra com a predominância, que seria a Embraer, brasileira. Então a total governança dela com o Brasil. Uma área voltada mais para comercialização e uma outra para o desenvolvimento dos projetos de defesa que interessam às três Forças Armadas. Essa com governança total do Brasil. Isso aí não compromete em nada", disse o ministro.

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