Movimento argentino prega desfiliação da Igreja Católica
Uma associação que prega a desfiliação à Igreja Católica argentina desde 2009, a Cael (Coalizão Argentina pelo Estado Laico), pegou carona nas manifestações a favor do projeto de lei para permitir o aborto, derrubada dia 8 passado pelo Senado, para promover sua própria causa.
O ambiente de protesto nas principais cidades do país e os lenços coloridos adotados (verdes pela lei e azuis contra) deram impulso a um terceiro lenço: o laranja, criado pela Cael, cuja bandeira é a separação entre Igreja e Estado —garantida na Constituição mas nem sempre respeitada.
A Cael também reivindica submeter religiosos que abusem de crianças à Justiça comuns, tirar sinais católicos de locais públicos, cobrar impostos às igrejas católicas e, agora, recolocar o projeto de lei para permitir o aborto até a 14ª semana aprovado na Câmara.
Em seu site, orienta os fieis a preencher um formulário e entregá-lo à paróquia que os batizou. A Igreja, porém, lembra que o Vaticano só aceita a saída de suas filas pela excomunhão. Em resposta, a organização sugere aos pais adiar o batismo para que o indivíduo tenha chance de decidir.
A Cael convocou para sábado passado (18) seu primeiro evento público. Nele, juntou centenas de pessoas em Buenos Aires, distribuiu formulários, orientou o preenchimento e ofereceu lenços laranjas (já à venda durante os protestos e votações no Congresso).
Iniciou, também, uma pequena marcha com brados como "não em meu nome" e "não pedi para ser parte disso". Seus membros pedem "apostasia coletiva" em resposta à "intolerância da Igreja com relação ao tema do aborto e os abusos de padres pedófilos".
Para Paola Rafetta, uma dirigente da Cael, "a maioria dos argentinos é católica não praticante, e não se preocupava antes com o que significava pertencer a essa Instituição".
"Houve então duas viradas, uma ao se descobrir, após a ditadura (1976-1983), que a Igreja foi cúmplice", diz. "A segunda é agora, com as garotas do movimento feminista e com a divulgação constante dos casos dos padres pedófilos em vários países da região."
A Cael recolheu no sábado 1.200 assinaturas, o que levou os organizadores a prepararem eventos similares em outras cidades grandes como Córdoba, Rosário e Salta a partir deste fim de semana.
A entidade recebeu apoio de algumas alas das Mães e Avós da Praça de Maio, que têm enviado petições ao Vaticano pela abertura de seus arquivos à investigação do paradeiro dos desaparecidos da ditadura e seus netos entregues a outras famílias.
Apesar de a Igreja dizer que não receberá os formulários, a Cael prometem apelar à ONU, que em um de seus pactos diz que o Estado não pode impor a seus cidadãos uma religião.