Máscara de atirador de Suzano é símbolo de supremacistas e assassinos da ficção
A balaclava de caveira usada por um dos dois atiradores do atentado na escola Professor Raul Brasil, em Suzano (SP), é símbolo de supremacistas americanos, assassinos de videogame e um atirador fictício de uma série americana.
Vendida por até R$ 20 em sites de e-commerce, a máscara que cobre metade do rosto é usada pelos grupos americanos supremacistas República da Flórida e Divisão Atomwaffen.
Em diversas fotos que circulam pela internet, garotos fazem a continência do Terceiro Reich com um braço estendido e o rosto coberto pelo mesmo tecido estampado que Guilherme Monteiro, 17, usou no momento do massacre em Suzano.
Roupas pretas, coturnos e as tais máscaras identificam vários desses supremacistas anônimos e reconhecidos por assassinatos em série.
Teria sido um dos membros mascarados do Atomwaffen, aliás, que matou a facadas o estudante judeu Blaze Bernstein em 2018. Formado em sua maioria por jovens, o grupo nascido no Texas se inspira na cartilha de estilo do extinto fórum virtual neonazista Iron March, que encorajava o uso da máscara de caveira porque ela seria o “símbolo do fascismo no século 21”.
De fato, a mandíbula do esqueleto tem sido adotada neste século pela cultura pop para caracterizar psicopatas atormentados por um suposto senso de justiça.
Um deles é Tate Langdon, personagem da série “American Horror Story” (FX) inspirado nos responsáveis pelo massacre da escola secundária Columbine, em 1999. Sua história é marcada por bullying, problemas domésticos e patologias psiquiátricas, fatores que culminaram no assassinato de 15 jovens da escola fictícia Westfield High School, referência ao massacre real da escola americana.
Ele usa uma maquiagem de caveira, roupas pretas e, numa das cenas da primeira temporada, um machado. A caracterização é similar à do atirador paulistano, que inclusive tinha essa mesma arma presa à cintura.
O artefato cortante também é emblema do assassino Michael Meyers, personagem popularizado pela franquia “Halloween”, iniciada em 1978. Além das sequências cinematográficas, ele surgiu em 2014 numa versão do jogo de videogame “Call of Duty”, intitulada “Ghosts”, ou fantasmas.
Na história há assassinos caracterizados com roupas pretas e a mesma meia máscara de caveira. Em dado momento, o jogador pode virar Meyers e passar a matar oponentes com um machado.
Numa plataforma brasileira de e-commerce, uma máscara idêntica à usada no crime em São Paulo e vinculada ao jogo nos anúncios foi vendida 129 vezes para usuários paulistas.
Diversos países discutem o uso de signos mortíferos, tanto no plano real quanto no fantasioso. No ano passado, o chefe do exército australiano, Angus Campbell, baniu o uso dessas máscaras nos agrupamentos militares australianos dentro e fora do país. Ele taxou os símbolos de “arrogantes”.
Nos Estados Unidos, desde o início desta década, escolas públicas dos estados de Illinois, Califórnia e do Texas passaram a recomendar que as fantasias usadas por alunos em festividades, como o Dia das Bruxas, não incluam disfarces de esqueletos e machados fictícios.
Em 2014 o governo chinês chegou a proibir o uso de fantasias desse tipo no metrô para evitar pânico. Naquele país, jogos que usem armas como mote de suas narrativas não podem ter personagens caracterizados com máscaras de esqueleto.