Na disputa de pênaltis, é melhor começar batendo ou não?
A derrota nos pênaltis do Paris Saint-Germain para o Rennes, no sábado (27), que custou ao time parisiense o título da Copa da França, trouxe à tona uma discussão interessante.
É melhor bater o primeiro pênalti na disputa ou deixar que o adversário o faça?
Depois de a partida terminar empatada (2 a 2) decorridos o tempo normal e a prorrogação, o árbitro, como é praxe, reuniu os capitães e fez um sorteio.
O zagueiro Marquinhos, do PSG e da seleção brasileira, ganhou e teve o direito de escolher. Para surpresa de muitos, ele consultou Neymar, o craque do time.
Feito isso, Marquinhos avisou que o Rennes ficaria com a primeira cobrança.
Muitos internautas espinafraram essa preferência, pois entenderam que Neymar assim decidira para ter a chance de, cobrando e convertendo o quinto e último pênalti, colher para si os louros da vitória.
Essa hipótese não é improvável, pois já tinha acontecido antes.
Nos Jogos do Rio, em 2016, coube a Neymar, então capitão do time, bater o pênalti que deu ao Brasil seu primeiro ouro olímpico, suplantando a Alemanha depois do empate por 1 a 1 no Maracanã.
Desta vez não deu certo, já que ninguém do Rennes desperdiçou cobrança, e ao converter a sua Neymar apenas esticou a disputa, vencida na sequência pelo time azarão.
Retomando a discussão que propus: houve fãs do futebol que disseram, conforme publicou o site Torcedores.com, ser melhor começar batendo, a fim de colocar uma pressão maior no adversário.
Se não me chegou informação errada, até o ex-árbitro Carlos Eugênio Simon, comentarista da Fox Sports, que transmitiu PSG x Rennes, encampou essa tese.
Eu refleti e concluí que jogar a pressão para o rival, nesse caso, é relativo. Só funciona se o primeiro jogador a bater o pênalti fizer o gol. Se não fizer, ocorre o efeito contrário.
Jogadores de PSG e Rennes (dir.) acompanham a disputa de pênaltis que decidiu a Copa da França (Damien Meyer – 27.abr.2019/AFP)
Resta-me deduzir que, para parcela significativa dos que acompanham futebol, há uma certeza de que quem bate o primeiro pênalti vence esse tipo de disputa. E o triunfo do Rennes seria uma comprovação dessa convicção.
Eu, porém, desacreditei.
Nos pênaltis, não faz sentido esse tipo de raciocínio. As chances são iguais para cada lado; a pressão, idem. Ganha quem souber administrar melhor os nervos, estiver mais bem treinado e não for displicente – pênalti bem batido, o goleiro quase nunca pega.
Assim, para não acreditar em um discurso fácil de emplacar logo depois que um único resultado o corrobore, é necessário buscar dados históricos.
O ideal seria levantar todas as disputas de pênaltis da história do futebol e descobrir quantas vezes o time que começou batendo venceu e quantas vezes perdeu.
Como isso é impossível, usei dois recortes: o primeiro, as decisões por pênaltis em Copas do Mundo, a mais importante competição do futebol e a que, possivelmente, impõe a maior pressão aos jogadores.
Foram até hoje exatas 30 disputas de pênaltis em Mundiais. A primeira delas na Espanha-1982, a última na Rússia-2018.
O resultado? Equilíbrio completo. Em 15 vezes, saiu ganhadora a seleção que começou batendo; nas outras 15, venceu a seleção que cobrou a segunda penalidade.
Baggio lamenta o erro que deu ao Brasil o tetracampeonato mundial, nos EUA, em 1994; a Itália começou batendo na decisão por pênaltis e perdeu (Andre Camara – 17.jul.1994/Reuters)
Até em final de Copa o resultado é 50%. Na de 1994, a Itália cobrou antes e o Brasil saiu vencedor (3 a 2). Na de 2006, a Itália bateu primeiro e triunfou diante da França (5 a 3).
O segundo recorte são as decisões por pênaltis nas Eurocopas – 18 ao todo. Em 11 delas (61%), venceu a seleção que não começou batendo.
Em suma, isso de ser melhor chutar o primeiro pênalti é uma grande lorota.
Em tempo 1: Citei neste texto que goleiro não pega o pênalti bem batido. Mas afinal o que é um pênalti bem batido? Locutores e comentaristas dirão, simploriamente, o que é dito há décadas: “É aquele em que a bola entra”. Mas há uma teoria que leva em consideração a física, exposta anos atrás no Globo Esporte, então apresentado por Tiago Leifert. É preciso cobrar o pênalti com força, em um dos cantos, e no alto. Se for executado dessa maneira, com precisão, nunca o goleiro conseguirá pegar – a não ser que trapaceie, movendo-se antes do permitido. É, contudo, necessário que o jogador treine exaustivamente para chutar forte e acertar o ângulo. O segredo está aí. Cabe saber executá-lo.
Em tempo 2: Lamentável, vergonhosa, deplorável a atitude de Neymar de, depois da derrota, dar um soco em um torcedor que dizia impropérios para, mais tarde, afirmar que estava errado mas que não tinha “sangue de barata” – justificativa que só seus parças devem curtir. Neymar está com 27 anos, deixou de ser criança faz tempo, mas, quanto mais o tempo passa, menos esperança há de que ele se comporte adequadamente, sem atos inconsequentes, em campo ou fora dele. Uma pena.