Na disputa entre China e EUA pela América do Sul, Pequim avança
A competição geopolítica entre China e Estados Unidos chegou com tudo à América do Sul.
O fenômeno não é novo, mas ganhou relevo com a visita do secretário de Defesa americano aos quatro grandes países da região —Brasil, Argentina, Chile e Colômbia.
A pergunta que importa é simples: como a disputa entre Washington e Pequim moldará o ordenamento regional sul-americano, e quem vem ganhando as primeiras rodadas?
A resposta passa pelos três mecanismos diplomáticos básicos que a China vem utilizando para comunicar suas intenções aos países da vizinhança.
O primeiro diz respeito ao modo pelo qual a diplomacia chinesa demanda concessões dos governos sul-americanos.
O melhor exemplo recente foi a intricada operação da China em Brasília para abocanhar lotes do pré-sal e conseguir comprar um terço do setor elétrico brasileiro, além de boa parte da produção hidrelétrica nas fronteiras.
A negociação demandou dos chineses a capacidade de manter o fio da meada em meio à turbulência que derrubou Dilma e que levou Temer ao Palácio do Planalto.
O segundo mecanismo refere-se à forma como a diplomacia chinesa faz compromissos críveis capazes de levar seus parceiros sul-americanos à mesa.
Aqui, o melhor exemplo é a costura elaborada pela embaixada chinesa em Buenos Aires para emplacar a construção de uma base de monitoramento de satélites e de segurança cibernética na Patagônia.
A manobra demandou trabalho minucioso para evitar reação adversa da opinião pública e das Forças Armadas argentinas, que têm ojeriza à ideia de expor seu território ao radar dos Estados Unidos.
O terceiro mecanismo é composto pelos sinais que a China emite aos países da região quando sente seus interesses ameaçados pelos Estados Unidos. Ela avança e busca o conflito ou dá um passo atrás para evitá-lo?
A ilustração mais contundente é a decisão chinesa de reduzir seu apoio ao regime venezuelano depois que os desmandos do governo Maduro atiçaram a atenção do Congresso americano.
A explicação parece simplista, mas não é o caso. O futuro geopolítico da América do Sul será, em grande medida, uma função desses poucos mecanismos de sinalização adotados pela China (e da reação a eles dos países da vizinhança).
A verdadeira notícia da semana, portanto, não é fala do chefe do Pentágono na Escola Superior de Guerra, mas a dificuldade americana de responder à escolha chinesa de fazer demandas moderadas, entregar promessas e recuar de situações conflituosas.
A entrada de uma potência no quintal de outra é sempre conflitiva. Pelo menos até agora, a China tem uma estratégia ganhadora.