Na Ferrari em 2019, Leclerc espera reviver rivalidade com Verstappen
Está no YouTube. Max Verstappen, então com 15 anos, deixa a prova da WSK Series de 2012, campeonato europeu de kart, bufando de raiva. “É injusto. Eu lidero a corrida, vou passar, ele me empurra, eu o empurro de volta e ele me joga para fora da pista”, reclama o holandês.
“Ele” é Charles Leclerc, nascido em Mônaco, que dá de ombros para a reclamação do colega. “Não foi nada. Apenas um incidente na pista.”
Seis anos depois, eles estão separados por menos de 100 metros nos paddocks de suas escuderias nesta quinta-feira (8), antes dos treinos livres do GP Brasil de F-1.
Verstappen está na frente na carreira. Tem contrato com uma equipe melhor (Red Bull) e é recordista da categoria. Em 2016, aos 18 anos, foi o mais jovem a liderar e vencer uma prova, na Espanha.
“Ele era muito agressivo, às vezes ultrapassando os limites. Mas creio que amadureceu. Ainda é agressivo, mas se acalmou um pouco”, disse Leclerc à Folha antes dos treinos.
A rivalidade que atravessou a juventude dos dois está prestes a ser renovada de verdade a partir de 2019. O monegasco não é adversário neste ano. Está em uma escuderia fraca, a Sauber, que ocupa o 8º lugar na classificação entre as 10 equipes do campeonato.
Ele estreou apenas em março de 2018 e tem 27 pontos na tabela de classificação, contra 216 do holandês, ganhador de duas corridas no ano. Mas na próxima temporada, Leclerc será a aposta da Ferrari.
“No kart, nossa relação era turbulenta. Nos encontrávamos nas provas e quase não conversávamos. Era apenas um cumprimento e acabou. Estávamos longe de sermos amigos”, conclui Leclerc, apontado como um provável campeão da F-1 no futuro.
Verstappen é visto da mesma maneira. Trata-se de mais uma semelhança entre dois pilotos tão parecidos. Ambos nasceram com 17 dias de diferença, em 1997. Verstappen é de 30 de setembro, Leclerc, de 16 de outubro.
A F-1 torce para que a rivalidade continue, não no estilo Lewis Hamilton e Nico Rosberg, dois bons amigos que depois se tornaram adversários numa relação de amor e ódio.
Na parte econômica, para as audiências das provas e para o interesse na categoria, os dirigentes sonham que ambos possam desafiar Hamilton e viver uma disputa não vista nas pistas desde os tempos de Ayrton Senna e Alain Prost, nas décadas de 1980 e 1990.
“São muitas provas [em que se enfrentaram]. Seguramente, espero que vivamos mais disso no próximo ano”, afirma Leclerc, com a mesma voz serena de quem há seis anos jurava não ter acontecido nada de mais no episódio do kart em que Verstappen alega ter sido jogado para fora da pista.
O monegasco responde às perguntas em tom monocórdio. Qualquer que seja o assunto. Nem parece o piloto que neste ano, ao chegar à F-1, disse que teve de aprender a se controlar porque na juventude sua maior fraqueza era ser muito emotivo.
Ele pensa que, por enquanto, a rivalidade com Verstappen será consequência do que acontecer quando entrar no cockpit da Ferrari. “Será um grande desafio para mim, porque estarei em um time top. Era algo que já esperava”.
Esse será o terceiro GP Brasil de Verstappen, que teve dois bons resultados em Interlagos na carreira. Subiu ao pódio em 2016 (3º lugar) e ficou em 5º no ano passado. A prova deste domingo (11) será a estreia de Leclerc. Ele conhece o circuito apenas de corridas de categorias inferiores.
“Eu amo esse circuito. É um dos meus favoritos. Mal posso esperar para pilotar [um carro de F-1] nele. Não sei [o que gosta em Interlagos]. O ritmo… Sinto que tenho problemas para responder a esse tipo de perguntas porque não sei o que gosto e o que não gosto, para dizer a verdade. Às vezes, apenas gosto de uma coisa e acabou”, tenta explicar o piloto.
Quando criança, ele assistia aos GPs de Monte Carlo da varanda do apartamento dos seus pais. Apesar de morar em local identificado com riqueza e elite financeira, Leclerc quase abandonou o automobilismo em 2011, porque o pai não tinha como financiar a passagem do filho do kart local para as provas europeias.
Quem o ajudou foi o francês Jules Bianchi, que também correu na F-1 e o indicou para o seu atual empresário, Nicolas Todt, filho de Jean Todt, atual presidente da FIA (Federação Internacional de Automobilismo). Bianchi morreu em 2015, aos 25 anos, em decorrência de ferimentos na cabeça sofridos durante o GP do Japão do ano anterior.
As entrevistas de Leclerc foram concorridas antes e depois dos treinos livres em Interlagos. Um reconhecimento de que, apesar de estar em uma escuderia pouco expressiva, ele é visto como um futuro piloto de ponta. Patamar em que já está o seu antigo rival, Max Verstappen.
“Não vou falar sobre o que espero da Ferrari no futuro. Quero dar o máximo pela Sauber nessas duas provas que faltam. Depois penso nisso.”
O que Leclerc pode fazer e a possibilidade da rivalidade com Verstappen são duas das possíveis atrações do GP Brasil, penúltima prova do calendário de temporada da F-1.
Os carros entram na pista do Autódromo de Interlagos nesta sexta, às 11h (com SporTV), para o primeiro treino livre. A segunda sessão será às 15h.
Sem preocupações, Hamilton e Alonso relaxam no Brasil.
Sem obrigação de se preocupar com o resultado ou classificação no grid, o já campeão deste ano, Lewis Hamilton, parecia relaxado em Interlagos. Conversou com jornalistas que conhecia e passeou de patinete pelo paddock, mas também reconheceu ter problemas para vencer no Brasil.
Isso aconteceu apenas uma vez, em 2016, mas ele perdeu o título para Nico Rosberg. Não sei o motivo, mas [Interlagos] é meu calcanhar de Aquiles”, afirmou o piloto inglês.
Mais relaxado que o inglês, só o espanhol Fernando Alonso, que disputa o GP Brasil pela última vez. Ele, que vai abandonar a F-1 ao fim da temporada, recebeu mensagens de despedida de integrantes da McLaren, sua equipe, em uma cadeira de praia, lhe desejando boa aposentadoria.
Para reportagem de uma TV espanhola, Alonso posou de macacão de corrida e uma bebida na mão, como se estivesse já de férias.
Charles Leclerc, 21
Nascido no Principado de Mônaco em 16 de outubro de 1997, estreou na F-1 na atual temporada como piloto da equipe Sauber. Nas temporadas 2016 e 2017 foi piloto de testes da Ferrari, equipe para a qual ele retorna no ano que vem para ser um dos pilotos principais, ao lado do alemão Sebastian Vettel
Programação do GP Brasil
Sexta (9.nov)
11h às 12h30 Treino livre (1ª sessão)
15h às 16h30 Treino livre (2ª sessão)
Previsão do tempo
23 °C | 15 °C
Possibilidade de chuva 80%
Sol e muitas nuvens durante o dia. Períodos nublados
com chuva a qualquer hora
Sábado (10.nov)
12h às 13h Treino livre (3ª sessão)
15h às 16h Treino de classificação
Domingo (11.nov)
15h10 Largada do GP Brasil