No circuito da soja de MT, fazendeiros aplaudem decreto pró-armas
Sorriso e Sinop (MT) – A cada dez dias, um helicóptero com cinco policiais percorre fazendas da região de Sorriso (MT), cidade que é a maior produtora de soja do Brasil. Em algumas propriedades, os tripulantes descem e conversam com grupos de fazendeiros das redondezas sobre segurança no campo.
As principais recomendações: evitem construir paredões verdes, cercas vivas e muros opacos, que facilitam a ação de delinquentes; cuidem do entorno da propriedade como se fosse parte dela, para evitar o aspecto de abandono; invistam o quanto puder em iluminação.
E mais importante: formem teias de contato por WhatsApp e outras redes sociais para avisar ao menor sinal de perigo.
O projeto foi implantado no início do ano, uma parceria do Sindicato Rural de Sorriso (400 km ao norte de Cuiabá) com o Ciopaer (Centro Integrado de Operações Aéreas) do governo do estado, que reúne as polícias militar e civil e o corpo de bombeiros.
O que motivou a iniciativa, diz Tiago Stefanello, presidente do sindicato, foram os altos níveis de violência no campo. “A invasão de propriedades chegou num ponto inaceitável”, diz ele.
Por isso, os produtores rurais do norte de Mato Grosso, uma das regiões onde o agronegócio é mais forte no país, aplaudiram efusivamente as medidas anunciadas pelo governo de facilitação de posse e uso de armas de fogo nas propriedades rurais, anunciadas nesta semana.
As principais ocorrências são roubo de fertilizantes e defensivos agrícolas, que são fortemente afetados pela alta do dólar e por isso nunca estiveram tão caros (uma tonelada de adubo, suficiente para dois hectares plantados, subiu de US$ 350 para US$ 390 em um ano).
Também há furto de sementes, cabeças de gado e máquinas. Em alguns casos, os bandidos usam de violência, agredindo e amarrando proprietários rurais e caseiros.
E há também a sempre presente possibilidade de ação de grupos de sem-terra, embora essa ameaça tenha sido reduzida nos últimos dois anos, afirma Stefanello. “Eles entraram na minha propriedade uns anos atrás, mas foram convencidos a se retirar de um jeito muito persuasivo”, diz ele, que mobilizou policiais na época para removê-los.
Natural de Ibirubá (RS), Stefanello, 41, migrou para o Mato Grosso em 2000 para trabalhar numa propriedade como engenheiro agrônomo, mais um entre milhares de sulistas que vieram tentar a vida no Cerrado. Hoje, planta soja e milho.
O presidente do Sindicato Rural de Sorriso (MT), Tiago Stefanello (Fábio Zanini/Folhapress)
Stefanello é eleitor de Bolsonaro e diz que 99% dos 620 fazendeiros que seu sindicato representa apoiaram o capitão na eleição. “Ele é contra invasão de terras e o aparelhamento do Incra, que nos trouxe muito prejuízo”, afirma. Uma de suas ações à frente do sindicato foi distribuir bandeiras do Brasil para os produtores. “Temos que reforçar o patriotismo”, diz.
Em Sinop (MT), cidade vizinha que também é um pólo produtor de soja, Ilson Redivo, 62, catarinense de Caçador que migrou há 30 anos para a região, diz que as medidas adotadas por Bolsonaro para facilitar o uso de armas nas fazendas vão fazer a lei valer para todos.
“Se o cara vai lá na fazenda, chumbo grosso nele. Você primeiro atira e depois pergunta o que ele foi fazer lá”, afirma Redivo, presidente do Sindicato dos Produtores Rurais da cidade.
Segundo ele, a Polícia Militar no município mal tem condição de oferecer segurança urbana para a cidade de 140 mil habitantes, considerada a “capital do Nortão de Mato Grosso”.
O presidente do Sindicato dos Produtores Rurais de Sinop, Ilson Redivo (Fábio Zanini/Folhapress)
“A lei do desarmamento desarmou o cidadão de bem”, afirma ele, que mantém um adesivo de Bolsonaro em seu computador de trabalho. “O Estado não tem condição de prover segurança, é preciso dar condições às pessoas de se defenderem”.
Dezenas de grupos de WhatsApp coordenados pelo sindicato deixam os produtores em alerta constante para episódios de invasão à propriedade.
Assim como em Sorriso, em Sinop o principal problema é o roubo de fertilizantes e defensivos. “Roubo de defensivo tinha que ser crime inafiançável como é o tráfico de drogas. Quem sabe o Bolsonaro não muda isso também?, pede.