Não há economia forte com empresas enfraquecidas
Nos últimos anos, temos sido impactados pelas revelações sobre a corrupção envolvendo grandes empresas tanto no Brasil como em outros países. Um trabalho meticuloso de investigação e a colaboração de executivos das empresas investigadas e outros envolvidos resultaram num ponto de inflexão do relacionamento com o setor público, especialmente na área de engenharia e infraestrutura. Mas um olhar mais amplo para o cenário e para o futuro dos negócios com integridade no Brasil mostra que temos mais motivos para otimismo do que para pessimismo.
Um grupo de grandes empresas brasileiras, por exemplo, implantou novos processos e sistemas de governança e de controle. As mudanças são amplas e estão em prática. Relatório independente de 2018 da ONG Transparência Internacional sobre a transparência dos relatórios corporativos das cem maiores empresas brasileiras mostra resultados que não deixam dúvidas sobre a evolução, comparados aos de empresas de outros países emergentes, como Rússia, Chile e Coreia do Sul.
Nesse relatório, o setor de engenharia e construção no Brasil, um dos mais atingidos pelas investigações da Lava Jato, teve a maior média para a dimensão dos programas anticorrupção quando comparado a outros 14 setores empresariais brasileiros. O relatório também mostra que é necessário evoluir em outros aspectos da divulgação de informações, notadamente na transparência das organizações e da atuação em diferentes países.
As empresas estão conscientes de que não sobreviverão em ambientes em que a corrupção, como acontecia antes, é meio para vantagens em negócios. E, por estarem imbuídas disso, dedicam-se hoje a iniciativas que levem a mudanças fora dos seus âmbitos, nas relações de mercado e com os entes públicos. São as chamadas iniciativas em ações coletivas, como o Movimento Empresarial pela Integridade e Transparência do Instituto Ethos, e outras lideradas pela Transparência Internacional e Pacto Global no Brasil.
Um recente exemplo foi a proposta para criar o Instituto Observ feita por empresas, entre as quais a Odebrecht, e o Instituto Ethos. Trata-se de iniciativa baseada em uma plataforma aberta com acesso pela internet incorporando mecanismos de buscas de dados e de análises visando acompanhar, informar e dar maior transparência aos processos de licitação de obras públicas.
Esse esforço de mudança, tanto no ambiente interno como nas relações com a sociedade e com o poder público, demonstra uma profunda transformação de empresas que não somente colaboraram com as investigações e cumprem os compromissos firmados com autoridades, mas se capacitaram para serem agentes de mudanças, indo além do que determinam os acordos judiciais. Mas, ao buscarem novas oportunidades, encontram perguntas: por que dar a essas empresas uma segunda chance, diante do vulto dos crimes de que foram acusadas? Vale a pena preservar o que elas têm de conhecimento, de tecnologias e competência técnica?
As respostas estão em exemplos de outros países com empresas que enfrentaram crises semelhantes e souberam se renovar. Começaram por reconhecer as condutas ilícitas, assumir compromissos, fazer as transformações e reconstruir a confiança perdida. Adotaram a tolerância zero perante desvios. Desafiaram-se a influenciar os ambientes externos, formando alianças para o combate à corrupção e estimulando mudanças na relação público-privada. E, ao somarem incondicionalmente ética e integridade à capacidade e competência, retomaram atividades, voltaram a crescer, a atrair talentos e empregar, gerando desenvolvimento e mudanças definitivas na relação público-privada. E se tornaram mais fortes do que eram.
No momento em que o país planeja retomar investimentos e eliminar gargalos em infraestrutura, determinado a avançar no combate à corrupção, as empresas brasileiras de engenharia tomaram uma causa: praticar e exigir o cumprimento dos compromissos assumidos pela integridade. Fizeram as transformações e se renovaram, preservando suas capacidades e "know how" reconhecidos dentro e fora do país. É o momento de fazer escolhas. Não há países de economias robustas sem empresas nacionais fortes nos setores de suporte da economia como a infraestrutura.