Nova era do Japão ganha um nome, mas ninguém concorda sobre o que significa
É o fim de uma era, e a nova já tem nome.
O governo japonês revelou oficialmente na segunda-feira (1) o nome da era imperial que começará em 1º de maio, um dia depois que o atual imperador, Akihito, abdicar.
Akihito, 85, é o primeiro monarca japonês a renunciar em mais de 200 anos. Com o final de seu reinado também termina sua era, conhecida como Heisei.
O reinado de cada imperador é acompanhado de um nome para seu mandato, e o nome da era torna-se uma parte importante da vida cotidiana no Japão, pois é usado para indicar a data em todos os documentos oficiais.
Em entrevista coletiva na segunda-feira, o secretário-chefe do gabinete, Yoshihide Suga, revelou dramaticamente uma interpretação caligráfica do nome da era do próximo imperador, o atual príncipe herdeiro Naruhito, 59.
O reinado de Naruhito se chamará Reiwa, termo com diversos significados, que incluem "ordem e paz", "harmonia auspiciosa" e "harmonia feliz", segundo estudiosos citados na mídia japonesa.
Naruhito deverá se tornar o 126º imperador da monarquia mais antiga do mundo.
A atual era imperial, conhecida com Heisei —traduzida aproximadamente como "alcançar a paz"—, foi escolhida no dia em que o pai de Akihito, o imperador Hirohito, morreu.
Além de escolher o nome da era imperial um mês antes de Naruhito assumir o trono, o Japão rompeu a tradição de outra maneira: o governo escolheu a palavra "Reiwa" de uma coletânea de poesia japonesa, e não da literatura clássica chinesa, como era costume.
Assim que "Reiwa" foi anunciada, os analistas imediatamente saltaram para definir a palavra, tarefa dificultada pela natureza dos caracteres kanji da escrita japonesa.
O primeiro-ministro, Shinzo Abe, disse que o nome foi escolhido da mais antiga coletânea de poemas japoneses, uma antologia do século 8º conhecida como "Manyo-shu", e se refere a um verso sobre o brotar das flores de ameixeira depois de um inverno rigoroso.
"O nome da era se baseia na longa tradição da família imperial, na estabilidade do Estado e na felicidade da população", disse Abe, que não quis dar detalhes de como o nome foi escolhido ou quais eram as alternativas.
Segundo a mídia japonesa, o gabinete escolheu o nome de uma lista depois de consultar um painel de nove especialistas, que incluía Shinya Yamanaka, pesquisador de células-tronco ganhador do prêmio Nobel, e a romancista Mariko Hayashi, uma das duas mulheres no painel.
Nem o imperador nem o príncipe herdeiro influíram na decisão.
Alguns comentaristas notaram que o gabinete de Abe, que é de direita e defendeu um maior papel militar para o Japão, escolheu um nome contendo um caractere que significa "ordem" ou "lei".
Em um e-mail à imprensa, Tomoaki Ishigaki, porta-voz do primeiro-ministro, escreveu que interpretar Reiwa como "ordem e paz" "não foi o significado pretendido".
Ishigaki indicou em vez disso trechos do discurso de Abe em que ele descreveu o nome como representando a "cultura nascida e nutrida enquanto as pessoas lindamente unem seus corações".
"Como as flores da ameixeira que se abrem lindamente, anunciando a chegada da primavera depois de um inverno rigoroso, cada pessoa no Japão pode abrir suas próprias flores com esperança no amanhã", disse Abe.
Ao escolher o nome da literatura japonesa, em vez da chinesa, o governo fez uma opção "inquestionavelmente importante", segundo Kenneth J. Ruoff, historiador e especialista em Japão imperial na Universidade Estadual de Portland (EUA). "Ele se esforçou para enfatizar que essa é a tradição japonesa", disse Ruoff.
Fora isso, disse ele, o significado é "bastante amplo e vago".
Milhares de pessoas se reuniram em espaços públicos em Tóquio para esperar a divulgação do nome. Os jornais publicaram edições especiais comemorando o batismo da próxima era. No bairro de Shinbashi, em Tóquio, trabalhadores disputavam exemplares do jornal, cujo título era o nome da nova era em caracteres japoneses gigantes.