Novo ministro da Educação, Weintraub defende expurgo do 'marxismo cultural'
Jair Bolsonaro ainda não havia sido empossado quando Abraham Weintraub e seu irmão Arthur foram à Cúpula Conservadora, evento idealizado por Eduardo Bolsonaro (PSL-SP) em dezembro, e lá defenderam um expurgo do "marxismo cultural" nas universidades. Quem viam como um aliado natural nessa batalha: Olavo de Carvalho.
Os irmãos, à época, integravam a equipe de transição do presidente eleito e, voltados ao direito previdenciário, ajudaram a formular programas do futuro governo nessa área.
Abraham defendeu, no resort em Foz do Iguaçu (PR) que abrigou o encontro direitista, que dava "pra ganhar deles [da esquerda]" se os conservadores adaptassem as ideias de Olavo. Ah, e não podiam ser chatos.
“A gente tem que ser mais engraçado que os comunistas" para “ganhar a juventude”, disse, cumprindo o que prometeu já no início do painel: fazer uma apresentação “mais rock ‘n’ roll que MPB”.
Ali os irmãos Weintraub fizeram quase que um jogral para criticar o que enxergavam como um monopólio de ideias de esquerda nas universidades.
“Um pouco da contribuição que podemos dar é como vencer marxismo cultural nas universidades”, disse aquele que, exatos quatro meses depois, seria anunciado como substituto de Ricardo Vélez Rodríguez no MEC.
Abraham aconselhou a plateia: se um comunista chega com o "papo 'nhoim nhoim', xinga". Exatamente como o escritor Olavo de Carvalho sugere fazer. "Nesse tipo de diálogo", continuou, não dá para ter "premissas racionais".
Arthur também criticou a suposta dominação esquerdista no ensino superior do país. Contou que, quando estudou na USP, tinha “coleguinhas que diziam que não aprendiam inglês ou francês” por serem línguas imperialistas. Concluía de cara: “Esse cara tá fora do jogo”. Mas logo esses “foram para Brasília e ficaram ricos”, lamentou.
Os irmãos também alvejaram o comunismo —um vírus, segundo Arthur— e Fidel Castro. Para Abraham, o ditador não passa de um “playboy” fã de roupas de marca que atolou Cuba na pobreza.
CRISE NO MEC
A saída de Vélez era ensaiada havia algumas semanas por causa da crise permanente na pasta, expondo uma disputa entre militares e seguidores do escritor Olavo de Carvalho. Na sexta (5), Bolsonaro indicou a jornalistas que resolveria a questão nesta segunda.
Weintraub foi apresentado a Bolsonaro por Onyx, mas o novo ministro da Educação tem proximidade com Olavo de Carvalho. O presidente escolheu um nome afinado ideologicamente com Olavo, mas sem vinculação direta com os grupos que disputam espaço.
A lógica, segundo auxiliares do governo, foi evitar mais briga entre olavistas e militares.
Apesar de ter sido anunciado pelo presidente como doutor, a plataforma Lattes indica que o economista tem apenas mestrado, finalizado em 2013 na FGV.
O site da Unifesp, onde o novo ministro leciona, também informa que Abraham possui apenas mestrado.
Na carreira profissional, segundo o currículo oficial, foi diretor estatutário do Banco Votorantim, CEO da Votorantim Corretora no Brasil e da Votorantim Securities nos Estados Unidos e na Inglaterra.
Anunciado no dia 22 de novembro, Vélez Rodriguez foi uma das últimas definições para a Esplanada dos Ministérios.
A publicação no Twitter do então presidente eleito tirou o professor colombiano radicado no Brasil desde a década de 1970 de um considerável anonimato. Até dias antes, o próprio Vélez Rodríguez jamais havia pensado que um dia seria ministro da Educação.
Vélez chegou à equipe de Bolsonaro por indicação do escritor Olavo, guru e ideólogo direitista, patrocinada pelos filhos do presidente.
Professor de filosofia, identificado com o conservadorismo, antipetismo e a luta contra o marxismo cultural, Vélez fez carreira discreta na própria instituição onde atuou por quase 30 anos, a Universidade Federal de Juiz de Fora.
Sem ter se dedicado aos debates sobre políticas públicas e educação, montou uma equipe a partir da indicação de vários grupos, o que depois resultou em um mosaico de interesses e disputas.