O 'conge' e o ministro  

 

O governo tuiteiro não dá trégua à língua portuguesa, como temos visto. Há pouco tempo, até o dito “superministro” Sérgio Moro, que dispensa apresentações, contribuiu para o cenário desastroso com uma gafe linguística, mostrando que está bem à vontade entre seus pares. No lugar de “cônjuge”, disse em uma entrevista, repetidas vezes, “conge”, suprimindo a sílaba do meio da palavra.

Se é verdade que as crianças, geralmente, têm dificuldade de aprender a pronúncia dessa palavra, uma proparoxítona cuja sílaba tônica é seguida por duas átonas com som de “gê” (ju-ge), também o é que, na vida adulta, sobretudo quando o termo passa a fazer parte do vocabulário ativo da pessoa, a dificuldade tende a desaparecer.

Para o aprendizado da palavra muito contribui o conhecimento que se tem de seu significado, origem, cognação.

“Cônjuge” pertence à mesma família de “jugo”, de “conjugar”, de “jugular” e de “jumento”, por exemplo. “Jugo” é o nome da peça de madeira que se coloca sobre a cabeça dos animais para atrelá-los – juntos, formando uma parelha – a uma carroça.

É dessa ideia de unir os dois animais, fazendo-os caminhar, presos um ao outro, lado a lado, que vem o sentido figurado de “jugo”, de opressão, sujeição, submissão (libertar-se do jugo paterno, sob o jugo de um ditador etc.). Não é difícil derivar daí também o significado de “cônjuge”, pensando agora não (necessariamente) na opressão, mas na união de dois – de “cônjuge” deriva o adjetivo “conjugal” (leito conjugal).

“Conjugar” tem, portanto, o sentido de unir, mas também o de estar preso (tudo a ver com casamento, certo?). Mesmo em “conjugar um verbo”, quando apresentamos todas as suas formas com as respectivas flexões, essa ideia está presente.

“Jugular”, por sua vez, a maioria das pessoas conhece como redução de “veia jugular”. O adjetivo “jugular” vem do latim “jugŭlus,i”, que é o  local onde o pescoço se junta às espáduas e ao peito. Voltamos, pois, ao jugo posto nos animais, preso também nessa região do seu corpo.

E assim chegamos ao “jumento”, ou seja, à besta de carga, termo que remonta à mesma raiz latina “-jug-”. “Jumento”, na linguagem informal, revestiu-se de carga depreciativa, sendo usado em referência a indivíduo de pouca inteligência, muito grosseiro, mas também a homem de dotes físicos e potência sexual acima do normal.

“Cônjuge”, finalmente, é um substantivo masculino (portanto se diz “o cônjuge”) que se refere tanto ao homem como à mulher num casamento do tipo azul e rosa. De emprego comum no meio jurídico, mas pouco usado na linguagem do dia a dia, o termo identifica o indivíduo em relação ao outro com quem tem laços de união. Esse tipo de palavra, na gramática, é classificado de “sobrecomum”, pois tem um só gênero gramatical (no caso, é o masculino, dado pelo artigo) e é usado para qualquer um dos indivíduos casados, independentemente de seu gênero.

 

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