O resumo de dois meses de semi-amadorismo no Paulista
A fase de classificação do Campeonato Paulista terminará na próxima quarta-feira (20). O resumo destes dois meses de estaduais teve como fato mais relevante a exposição da maior crise do São Paulo neste século. Só a campanha de 1990, com eliminação na repescagem, foi pior do que esta primeira fase.
Há 29 anos, o São Paulo terminou em 16º lugar. Desta vez, ainda corre risco pequeno de eliminação antes das quartas de final. O Corinthians, 9º colocado em 2014, foi o último grande a passar pelo vexame.
O São Paulo começou o ano goleando o Mirassol por 4 a 1, num sistema 4-1-4-1 e com cinco jogadores diferentes dos que fizeram a penúltima rodada, na quinta derrota consecutiva para o rival Palmeiras.
Com Vagner Mancini, no 4-4-2, com Hernanes solto, o São Paulo mudou tudo e vai se transformar de novo depois da chegada de Cuca, possivelmente daqui a duas semanas.
Crise à parte, o Paulista teve dois meses de convívio entre times profissionais de orçamentos superiores a R$ 400 milhões, com outros semi-amadores. Os pequenos precisam de dez meses de calendário, não apenas sessenta dias, e não à custa da perda de referência dos gigantes.
Todos, incluindo treinadores e analistas, perdemos noção do que há de bom ou ruim.
Para entender, por exemplo, se as revelações que o campeonato apresenta têm nível para jogar o Brasileiro. De tanto repetir que “estadual não vale nada”, muita gente para de assistir às partidas com a atenção necessária.
Quem foi atento viu o atacante Martinelli, do Ituano, vice-artilheiro do estadual aos 17 anos. Ou o volante Jóbson, do Red Bull, revelado pelo Palmeiras, recordista de desarmes. Também Murilo Henrique, do Novorizontino, que já foi do Goiás, o meia Serrato, do Ituano, ex-Vila-Nova-GO, ou o lateral Aderlan, 28, que disputou o Brasileiro pelo América-MG, e tornou-se líder de assistências pelo Red Bull.
O energético time de Campinas lidera a classificação geral, sem cultuar o passe, mas sempre à procura do gol. Antônio Carlos Zago dirige a equipe que mais finaliza.
No Brasil, quem chuta mais a gol tem mais chance de ganhar campeonatos, mostraram as estatísticas dos últimos anos. O Red Bull segue esta tendência, com 16,4 finalizações por partida, uma a mais do que o Santos. Depois do início promissor, com quatro vitórias seguidas e o ataque mais positivo do país, os santistas colecionaram só três triunfos e duas derrotas em seus últimos sete jogos.
A agressividade de Sampaoli e suas variações táticas são extremamente bem-vindas. Mas há outras estratégias. O Red Bull mostra isso. O Palmeiras, também. Os gols alviverdes não chegam a dois, de média, mas a defesa ninguém passa –só cinco gols sofridos em 12 jogos no ano.
Felipão anda atento ao que se diz e ao que se faz. Não por outro motivo, disse que libera seus dois laterais ao mesmo tempo ao ataque e puxa Felipe Melo para fazer a saída de bola com os zagueiros abertos na saída da defesa: “Os nossos laterais espetam, como é a palavra da moda. No meu tempo, a gente dizia aprofundar.”
Com todos os defeitos, o Campeonato Paulista chegará às finais com boas coisas para se ver. Os duelos táticos e as diferentes estratégias de Carille, Felipão e Sampaoli serão parte disso.
Custo-benefício
O Flamengo segue com melhor média de público do Estadual do Rio no século. Nos 6 jogos como mandante, levou 223.642 torcedores. Se o estadual vale pouco, o Flamengo vale muito. Por isso que a torcida vai. O rubro-negro mexeu na filosofia de preço. Contra pequenos, o bilhete médio tem saído por R$ 25.
Clássico milanês
É possível transformar campeonato bom num produto fraco ou torneio ruim em interesse de milhões. Sinal disso foi dado no Milan e Internazionale. Há 15 anos, a repercussão do dérbi era quase igual à de Barcelona e Real Madrid. Neste domingo (17), muitos nem sabiam que o clássico se jogava em Milão.