Onze homens e um segredo

No dia 10 último, uma sexta-feira, às 9 da manhã, 11 homens vindos de diferentes pontos da cidade encontraram-se no bar Jobi, no Leblon, para uma missão a que tinham se proposto —a última homenagem a um grande amigo, morto dias antes. O botequim, ainda com as cadeiras viradas, abriu-lhes as portas e serviu-lhes chopes, preparando-os para a aventura que os esperava. Ali mesmo, todos vestiram uma camiseta preta com a inscrição Key West —mandada fazer para a ocasião, igual a uma que seu amigo costumava usar. E só então partiram, em vários carros, rumo ao estádio do Maracanã.

Encontraram-se no estacionamento do estádio e se apresentaram a um funcionário como turistas para uma visita guiada, previamente agendada, às dependências e ao gramado. A ideia era burlar o guia e a segurança e depositar na gloriosa grama do Maracanã um punhado de cinzas do amigo, cedidas a eles pela família. E este era o problema —conseguir com que as cinzas fossem solenemente despejadas de um saco plástico e houvesse tempo para algumas palavras. 

De repente, uma decepção. A grama estava em recuperação para o jogo do domingo, Flamengo x Cruzeiro, e não seria possível pisá-la —até as balizas tinham sido retiradas. O fracasso estava à vista. Mas, então, o acaso jogou a favor. Uma turma de argentinos (ou chilenos, nunca se soube) desfraldou faixas alvirrubras no setor das cadeiras, numa aparente manifestação. O guia e os seguranças largaram o grupo e partiram brabos na direção dos gringos. 

Foi o que bastou para que os 11 homens —oito advogados, dois economistas e um jornalista, este, inglês— adentrassem o gramado e deitassem amorosamente o montinho de cinzas na área onde ficam os técnicos. 

E ainda houve tempo para as palavras finais a Alexandre Gontijo, amigo inesquecível e amante extremado do futebol, que agora repousa e se confunde com os tufos sagrados. 

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