Os cães no mundo da diplomacia
Apaixonado por animais de estimação, o presidente sul-coreano, Moon Jae-in, ganhou recentemente um casal de cães da raça pungsan, rotulada como “tesouro nacional” da Coreia do Norte. O ditador comunista Kim Jong-un enviou o mimo em mais um sinal de aproximação entre os vizinhos, e a iniciativa diplomática observou cuidados veterinários: os pets chegaram com “três quilos de ração, para uso na adaptação ao novo lar”, informou Seul.
A diplomacia canina ajuda a lubrificar engrenagens das mais complexas da geopolítica global, e sua presença, na península coreana, não é novidade. Kim Jong-il, pai do atual potentado, presenteou o então presidente da Coreia do Sul, Kim Dae-jung, em 2000, com um casal de pungsan igualmente após reunião de cúpula entre os países divididos pela Guerra Fria.
Kim Jong-un aplaina o terreno para entrar em fase desafiadora de sua estratégia, as novas negociações com Donald Trump. O ditador norte-coreano faz promessas vagas de desarmamento nuclear, com objetivo de arrancar dos EUA ajuda econômica e garantias de sobrevivência, ao menos no curto prazo, do regime stalinista.
Enquanto se prepara para reencontrar Trump, depois da primeira reunião, em Singapura, há quatro meses, Kim investe na aproximação com os sul-coreanos. Anunciou, no último diálogo com Moon, no mês passado, visita a Seul, fechamento de uma instalação de teste de mísseis e parceria, com Seul, em candidatura para sediar a Olimpíada de 2032.
Na ofensiva de relações públicas, o czar comunista ainda enviou os cães a Moon Jae-in. O dirigente sul-coreano convive com vários animais de estimação: já tem um pungsan, chamado Maru, e um cachorro sem raça definida, Tory. O gato Jjing-Jjing completa a família de quatro patas.
Vladimir Putin é outro presidente fascinado pelo mundo canino. Sabedores de sua paixão presenteiam-no com pets, a fim de ganhar pontos no mundo da sedução. Em 2012, o Kremlin recebeu Yume, akita oferecida pelo governo japonês. A matilha russa inclui mais dois exemplares, concedidos pelos governos da Bulgária e do Turcomenistão.
A labradora Konni, que morreu em 2014, era o pet mais famoso de Putin. Também chegou como presente, de um ministro russo. E protagonizou momento de pouca diplomacia, a julgar pela reação da imprensa internacional.
O presidente russo, em 2007, reuniu-se com a chanceler alemã, Angela Merkel, na residência oficial de verão, na cidade de Sochi. No início do encontro, enquanto fotógrafos registravam imagens, Konni entrou na sala e, sem cerimônias, começou a cheirar a visitante.
Merkel, por meios de expressões faciais, deixou visível o desconforto com a presença animal. Análises chegaram a apontar a triunfal entrada canina como tática putinista para intimidar, no início de negociações, a chanceler, que jamais escondeu o medo de cães. Putin, a posteriori, argumentou desconhecer o temor de Merkel e afirmou ter se desculpado pela incursão de Konni.
Cães também permearam laços entre líderes durante as tensões da Guerra Fria. Em 1961, o soviético Nikita Krushchev regalou Pushinka ao americano John Kennedy, um apaixonado por animais.
A cadela desembarcou em Washington e, antes de se mudar para a Casa Branca, passou por um pente fino. O FBI temia que Pushinka pudesse, à la James Bond, carregar algum dispositivo de espionagem. A pergunta é se os serviços de segurança sul-coreanos seguiram o exemplo e escanearam os pets enviados pelo regime comunista da Coreia do Norte.