Othon fecha hotéis icônicos em Salvador e BH
Em Salvador, metade das janelas está voltada para a praia de Ondina, e a outra metade, para a avenida na qual passam os trios elétricos no Carnaval.
Em Belo Horizonte, o prédio ergue-se imponente na paisagem do viaduto Santa Tereza e, no topo, surpreende com vista para o Parque Municipal.
Inaugurados nos anos 1970, os hotéis da rede Othon de Salvador e Belo Horizonte fecharão as portas neste domingo (18), encerrando uma história de mais de quarto décadas de dois ícones do setor hoteleiro.
O fechamento foi anunciado em uma nota na qual a empresa —que possuiu hotéis em outras nove cidades brasileiras— diz acreditar na recuperação da economia e afirma que continuará apostando no turismo nacional.
A rede não informou o motivo do fechamento, mas os relatórios da empresa, que tem capital aberto, apontam que o Othon teve um prejuízo de R$ 40 milhões em 2017.
Ao todo, a empresa tem um passivo de R$ 527,1 milhões, principalmente de tributos.
Em Salvador, o fechamento do hotel representará a perda de 240 empregos. Em Belo Horizonte, serão 170 funcionários demitidos.
Os empregados do Othon foram pegos de surpresa: “Faz dó”, diz José Eustáquio Pereira, 61, capitão porteiro do hotel na capital mineira.
Ele começou ali aos 21, responsável por carregar malas no único hotel cinco estrelas da cidade, e se lembra de hóspedes ilustres como Xuxa, Gilberto Gil e Stevie Wonder, além dos presidentes Itamar Franco, Tancredo Neves, Luiz Inácio Lula da Silva e Dilma Rousseff.
Empregados afirmam que a rede os auxiliou na busca por novos empregos, por meio de indicações. Ao longo desta semana, com as portas fechadas, ainda trabalharão catalogando todo o patrimônio.
O fechamento do Othon ocorre na esteira de uma crise no setor hoteleiro em Belo Horizonte em Salvador.
Após o boom da Copa de 2014, quando foram dados incentivos fiscais para a construção de novos hotéis, 24 foram fechados na capital mineira, e 22, na capital baiana.
A taxa de ocupação em Belo Horizonte vem caindo desde 2010, alcançando ocupação média de 45% dos leitos —destinos que efetivamente empregam no turismo e hotelaria têm taxa acima de 60%.
Em Salvador, o número de leitos caiu de 46 mil em 2014 para 40 mil.
Mesmo assim, gestores públicos afirmam estar otimistas quanto a uma retomada —as duas capitais registraram uma leve recuperação na ocupação de leitos em 2017.
“Estamos vivendo um momento positivo no turismo na Bahia, com taxas de ocupação interessantes. Vejo o fechamento do Othon como um ponto fora da curva”, afirmou José Alves, secretário de Turismo da Bahia.
Aluizer Malab, presidente da Belotur, empresa de turismo de Belo Horizonte, tem avaliação semelhante. “É uma questão isolada do grupo [Othon].”
Em Salvador, a região central ganhou o Fera Palace Hotel, que recebeu cerca de 28 mil hóspedes em um ano, e em dezembro terá sua primeira unidade do Hotel Fasano. O Fasano também abriu as portas em região nobre de Belo Horizonte em setembro.
Por outro lado, os empresários destacam que a taxa de ocupação ainda está em um nível considerado baixo e o preço médio das diárias está semelhante ao de 2013.
Eles criticam a falta de investimento público na divulgação das capitais. “Salvador estava fora das prateleiras como destino turístico. Tivemos de fazer um trabalho intenso nos polos emissores”, afirma Glicério Lemos, presidente da Abih (Associação Brasileira da Indústria de Hotéis) na Bahia.
Tanto em Minas Gerais como na Bahia, há a expectativa de que as duas unidades da rede Othon sejam adquiridas por outros grupos hoteleiros. Mas há uma série de entraves para concretizar a retomada.
“Para abrir aquele hotel novamente, é praticamente o valor de ele a ser construído do zero”, afirma Erica Drumond, presidente da Abih mineira.
Na Bahia, o histórico recente não inspira otimismo: o também icônico Hotel Pestana, no Rio Vermelho, está fechado desde 2015.