Palácio da Alvorada passa por reforma e volta ao seu projeto original
O Palácio da Alvorada acaba de passar por uma plástica. Aos 60 anos, completados em junho, o edifício projetado por Oscar Niemeyer recuperou a ambientação de interiores que tinha ao nascer, pensada pelo arquiteto e por sua filha, a designer Anna Maria Niemeyer.
O projeto foi promovido pela Direção de Documentação Histórica (DDH) do Gabinete da Presidência da República. A DDH é o órgão que cuida principalmente dos presentes que o presidente recebe e do acervo que ele acumula durante a gestão, explica o diretor atual, Antônio Lessa.
O diretor de Documentação Histórica é ainda o secretário de uma comissão que cuida da curadoria dos palácios do governo —o Palácio do Planalto, o do Jaburu, residência do vice-presidente, e a Granja do Torto também são de responsabilidade dessa comissão.
Foi no âmbito dessa comissão que Lessa e seu diretor-adjunto, João Carlos Magalhães, conceberam a recuperação da ambientação.
Eles, diga-se, não são nem arquitetos nem historiadores —o diretor estudou direito, e o adjunto, economia. Seu interesse pessoal em arte foi o que qualificou os servidores para os postos que ocupam desde o início do governo Temer, em 2016.
Magalhães, em especial, é um colecionador de mobiliário. Foi ele quem pessoalmente vasculhou depósitos e outras dependências do governo atrás de peças modernistas.
Muitas estavam em estado bastante precário ou totalmente desmontadas em galpões; outros estavam em uso, mas descaracterizados, com pés, tampos e estofados modificados.
Pesquisando no Arquivo Público de Brasília, o diretor-adjunto encontrou os desenhos originais de Anna Maria Niemeyer para móveis concebidos especialmente a fim de complementar os projetos de seu pai na nova capital.
Além dos móveis da designer, a decoração original do Alvorada incluía peças como cadeiras Barcelona e poltronas LC, que teriam sido presenteadas pelos próprios criadores, respectivamente Mies van der Rohe e Le Corbusier, papas do modernismo —ao menos “segundo a história oral” da Presidência, diz Lessa.
Foram quase dois anos de pesquisa e restauro —e um fim de semana para recolocar os móveis no lugar dos que saíram dos grandes ambientes cercados de mármore e latão. “O palácio amanheceu de um jeito e anoiteceu de outro”, resume o chefe da DDH.
O patrimônio recuperado está avaliado em cerca de R$ 2,5 milhões. A cifra, porém, é uma estimativa. Como os móveis desenhados pela filha de Niemeyer eram desenhos exclusivos para os palácios, nunca foram postos à venda.
Por isso, foi preciso calcular seu valor com base no preço atuais de móveis similares, de designers reconhecidos dos anos 1950 e 1960, como Joaquim Tenreiro e Sérgio Rodrigues.
Há entre os móveis recuperados, aliás, peças desses designers e de outros, como Jorge Zalszupin, muitas das quais haviam sido previstas originalmente para apartamentos funcionais e dispensadas ao longo dos anos por seus habitantes.
Magalhães diz que, se não tivesse sido possível recuperar as peças de Anna Maria Niemeyer -- o que foi feito por alunos de design e professores do Instituto Federal de Brasília (IFB) e nas oficinas de manutenção do governo federal --, o Alvorada teria sido mobiliado com peças da mesma época que as criadas para a residência do presidente.
No total, em dois anos, foram restaurados mais de 400 itens, segundo o diretor-adjunto.
Os custos do projeto se limitaram à compra dos materiais empregados —tecido e couro, além de madeira e mármore para tampos refeitos—, da ordem de R$ 150 mil, e ao convênio feito com o IFB —cerca de R$ 80 mil— que abrange também trabalho feito para peças utilizadas no Palácio do Planalto e na Granja do Torto.
O mobiliário resgatado agora convive com obras assinadas por Di Cavalcanti, Brecheret, Volpi e outros artistas do período em que Brasília foi construída, além de móveis e obras de períodos anteriores, como namoradeiras do século 19, que já compunham o espaço.
A DDH tem a intenção de ampliar a visitação ao térreo do palácio -- o piso superior é o espaço privativo do presidente -- para mostrar o resultado ao público. A medida, no entanto, ainda está em estudo.
Hoje, é possível visitar o Alvorada às quartas-feiras, das 14h30 às 16h50, mediante agendamento.
Durante o tour, as cortinas do palácio são abertas, e os visitantes o circundam pela varanda emoldurada pelas famosas colunas de Niemeyer. O passeio inclui ainda a capela e os jardins do palácio.