Papel do Brasil na crise venezuelana será colocado à prova em visita de Bolsonaro a Trump
Depois de anos desgastada pela falta de resultados concretos e instabilidade político-econômica do lado brasileiro, a relação entre os governos dos Estados Unidos e do Brasil começa a se revitalizar.
Este domingo, o presidente Jair Bolsonaro chega a Washington para sua primeira visita oficial nos Estados Unidos. Será, também, sua primeira reunião com o presidente Donald Trump.
A visita de trabalho dá continuidade a uma reaproximação bilateral que começou no governo do presidente Temer e que se fortalece desde a eleição do Presidente Bolsonaro.
O encontro, em si, tem caráter simbólico.
Do lado brasileiro, manda uma mensagem de priorização do Estados Unidos face a China e a Rússia. Menos BRICS, mais EUA.
Do lado americano, ter convidado o residente Bolsonaro à Blair House, a casa de hóspedes da Casa Branca, geralmente reservada para visitas de Estado, indica que o mandatário Brasileiro será recebido com pompa e circunstância, dando a devida importância a esse momento na relação bilateral.
No entanto, resultados concretos não virão desta vez. Fora o Acordo de Salvaguardas Tecnológicas, que será assinado durante a visita, não estão na pauta outros acordos de caráter vinculante.
O apoio tão esperado para entrar à OCDE parece improvável, já que algumas alas do governo americano ainda não estão convencidas de que o Brasil realmente quer liberalizar a economia.
Para além da relação bilateral, a Venezuela será o principal item na agenda do lado americano. Com uma crise humanitária do lado de casa, e com o apoio de quase todos os países da América do Sul, o Brasil estaria disposto a assumir um papel de liderança, ao lado da Colômbia, para resolver a crise?
Essa é a dúvida dos analistas em Washington. O tema é uma prioridade para o lado americano e pode afetar a credibilidade do Brasil desde a perspectiva americana e a relação bilateral a futuro.
Os resultados virão não da visita, e sim do trabalho de acompanhamento que farão os diplomatas de ambos países nos meses subsequentes.
Desde 2011, a relação bilateral entre o Brasil e os Estados Unidos é coordenada através de diálogos ministeriais, similar à estrutura da relação dos Estados Unidos com a China e com a Índia.
As reuniões ministeriais, que buscam alcançar metas incrementais e eventualmente grandes resultados, perderam muito do seu vigor nos últimos anos. A visita oficial muda esse cenário, revitalizando esse diálogo a pedido dos dois presidentes.
Ana Janaina Nelson é global fellow do Wilson Center