Para consultoria, saída da Crefisa não resultaria em caos financeiro no Palmeiras

Com recordes de arrecadação nas bilheterias, negociação de direitos de transmissão e dinheiro entrando em caixa com a venda de jogadores, o Palmeiras vai muito bem financeiramente, e poderia continuar assim mesmo se a Crefisa, principal patrocinador palmeirense, deixasse o clube repentinamente.

É o que aponta o relatório anual do Itaú BBA, que analisa a situação financeira dos principais clubes de futebol do Brasil. Coordenador do estudo, o consultor de finanças e gestão do esporte Cesar Grafietti, 46, disse à Folha que o Palmeiras conseguiria manter as contas em dia mesmo com o fim da parceria.

"Vamos imaginar que a Crefisa saiu do clube. O Palmeiras vende uma série de atletas caros, faz uma receita, paga a patrocinadora e ainda vai sobrar dinheiro para o clube tocar a vida", afirma Grafietti.

No ano passado, o Palmeiras ultrapassou os R$ 500 milhões em receita. Houve aumento em todas as áreas: direitos de TV, patrocínio, bilheteria e venda de atletas. Isso possibilitou ao clube usar a verba aportada pela patrocinadora para investir no elenco, ao invés de utilizá-la para cobrir despesas correntes. 

Dessa forma, o clube reduziu seu endividamento bancário e quitou o débito com o ex-presidente Paulo Nobre.

Pelas contas do consultor, baseadas em números presentes no balanço anual divulgado pelo Palmeiras, o clube gerou cerca de R$ 100 milhões de caixa em 2017. Esse valor refere-se à receita menos os custos e despesas. Sem o dinheiro da patrocinadora, esse valor cairia para R$ 20 milhões.

"Só com os direitos de TV, bilheteria e mais uma ou outra receita, o Palmeiras já fecha as suas contas no azul. Se, ao invés da Crefisa, o Palmeiras passar a ter um aporte de R$ 35 milhões de outros patrocinadores, sobe para R$ 55 milhões. Terá uma redução na geração de caixa, mas é mais do que suficiente para fazer alguns investimentos e conseguir manter a folha salarial como é hoje", afirma Grafietti.

A ideia de que o Palmeiras conseguiria manter as contas em dia mesmo sem sua principal patrocinadora já era defendida por membros da oposição ao presidente Maurício Galiotte, que tem Leila Pereira, conselheira e presidente do Grupo Crefisa, como uma de suas principais aliadas.

"É uma falácia dizer que, se a Crefisa nos deixar, o Palmeiras não terá condições de pagar a luz no dia seguinte", diz o advogado Savério Orlandi, um dos membros do COF (Conselho de Orientação e Fiscalização), que tem feito contestações ao modelo do contrato entre o clube e a financeira.

O órgão é controlado por aliados do ex-presidente Mustafá Contursi, principal desafeto político de Leila Pereira e maior força de oposição à gestão Maurício Galiotte, que tentará se reeleger na votação dos associados em 24 de novembro.

Para Savério, mesmo sem um grande contrato de patrocínio, o impacto da diferença de R$ 80 milhões no caixa do clube poderia ser mitigado com a exposição de mais marcas no uniforme.

"Se você dividir por 12 [patrocinadores] vai conseguir R$ 40 milhões. O resto pode ser obtido melhorando a gestão", afirma o oposicionista.

Segundo Grafietti, o raciocínio do conselheiro é coerente. Para ele, o Palmeiras tem totais condições de conseguir esse valor no mercado e citou como exemplo São Paulo e Santos, que conseguiram arrecadar em patrocínios R$ 50 milhões e R$ 35 milhões, respectivamente, em 2017.

"Para um clube como o Palmeiras, que tem atingido bons desempenhos esportivos, que tem uma marca forte, que está saneado financeiramente, com um estádio grande, lotado e novo, não é um absurdo falar em arrecadar R$ 40 milhões em patrocínio", afirmou.

Os oposicionistas questionam a forma como é conduzida a parceria entre Palmeiras e Crefisa. Para eles, Leila Pereira utiliza o dinheiro colocado no clube como uma forma de mantê-lo refém de suas vontades.

Algumas de suas atitudes tem desagradado inclusive membros da situação.

Conselheiros ouvidos pela Folha citam o processo judicial por danos morais aberto por ela contra os vice-presidentes Genaro Marino (candidato de oposição à presidência), Victor Fruges e José Carlos Tomaselli como exemplo de sua interferência no clube.

A ação foi motivada por uma carta de repúdio assinada por eles em julho contra declaração da conselheira.

Ela disse ao Blog do Ohata que iria rever o montante investido no clube caso a oposição vencesse a eleição.

Em declaração enviada à reportagem por sua assessoria de imprensa, Leila negou que pense em deixar o clube.

"Não penso em sair nunca. Tenho o objetivo de ver o Palmeiras sempre entre as equipes mais fortes do mundo. Estou sempre pronta para ser uma grande parceira do Palmeiras", afirmou.

Procurado, o clube não quis se manifestar sobre o assunto.

Apesar das reclamações quanto às atitudes da patrocinadora, tanto membros da situação quanto da oposição descartam trabalhar pelo rompimento do acordo.

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