Para driblar depressão, UnB é a 1ª do país a ensinar 'felicidade'

Felicidade se ensina? Para a UnB (Universidade de Brasília), a resposta é sim. A instituição é a primeira do país a criar uma disciplina acadêmica para estudar o tema —tão efêmero e particular.

A primeira turma de felicidade vai contar com 240 vagas e será ofertada a partir de agosto.

O titular da disciplina é o professor Wander Pereira, 50, que leciona gamificação no curso de engenharia de software no campus Gama. Ele explica que os alunos serão desafiados a descobrir como é possível ser feliz no momento da vida em que estão.

“A intenção é apresentar estratégias para ajudá-los a lidar com fatores adversos do dia a dia”. “Estamos diante de uma geração que não sabe diferenciar os problemas em cada uma das áreas da vida. Se ele vai mal nos estudos, tudo está ruim”, afirma.

A nova disciplina está amparada nas experiências colhidas pelas universidades americanas Harvard e Yale, pioneiras no ensino da felicidade. Por aqui, ela vai mergulhar na psicologia para esmiuçar áreas como autoconhecimento, afeto, solidariedade e respeito às diferenças.

Não haverá prova ao final das aulas. Os alunos terão que criar um produto que gere felicidade entre os colegas. “Pode ser um site, uma peça de teatro, um aplicativo de serviço, uma ideia de lazer. Qualquer coisa que torne todos mais felizes”, explica.

TRISTE GAMA

Apesar de estar aberta a toda UnB, a disciplina será ofertada presencialmente no Gama, um campus cujos alunos não têm encontrado motivos para sorrir.

A unidade, erguida na cidade-satélite de Brasília durante a política universitária do ex-presidente Lula (2003-2010), concentra cinco engenharias: automotiva, energia, eletrônica, aeroespacial e software.

Isolados a 35 km do plano-piloto da capital federal, os futuros engenheiros vivem num mundo particular, sem contato com outras áreas do conhecimento e pouco intercâmbio com os demais universitários.

O resultado disso recai na evasão. Em média, 6 em cada 10 ingressantes abandonam a graduação no Gama. Quem resolve ser reintegrado admite ter sofrido depressão por pressão e carga excessiva de disciplinas e provas.

Gabriel Libório, 25, está no grupo dos que pediram para sair. Aluno de engenharia automotiva, abandonou o curso por não conseguir dar conta da cultura “preciosista” do lugar. “Eu tive depressão, busquei ajuda psicológica e até tomei remédio psiquiátrico para segurar a onda”, conta.

Libório conseguiu chegar até o quarto semestre. “Havia situações assim: as provas eram tão grandes que a gente podia levá-las para casa. Eu passava o dia inteiro tentando encontrar a resposta, mas não conseguia”, diz Libório.

Libório voltou para casa. Hoje, cursa economia em uma faculdade particular de Salvador (BA) e faz estágio em uma casa de investimentos.

Foi diante desse cenário nocivo que a felicidade foi parar na grade curricular da UnB: para tornar a vida dos acadêmicos mais leve, diz o professor Wander Pereira.

A universidade também criou neste ano a Comissão de Saúde Mental, que presta apoio psicológico e pedagógico para alunos com depressão e dificuldades nos estudos. Quem já está inserido nos atendimentos terá prioridade na hora da matrícula em felicidade. 

Wander diz que o objetivo das aulas não é dar uma “receita de bolo da felicidade”, mas apontar caminhos para se chegar lá. Para ele, é feliz quem “é capaz de alcançar aquilo que deseja sem depender de coisas materiais”.

“Eu só não quero é ficar marcado como o 'professor da felicidade', porque no dia em que eu estiver triste eles vão me cobrar”, ri.

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